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17 de outubro de 2013

O Evangelho segundo Judas


O que levou o último dos apóstolos a trair Jesus?

A resposta pode estar em manuscritos inéditos, que trazem a versão do traidor
Para ele, nunca houve perdão. Há quase 2 mil anos, ele vem sendo impiedosamente castigado. Em dezenas de países, a cada sábado de aleluia, Judas Iscariotes, encarnado num boneco grotesco, é vítima de espancamento em praça pública. Além de ter entregado aos carrascos seu mestre, Jesus, ele paga pelo que de pior tiver sido feito naquele ano. Assume as feições do político corrupto, do tirano estrangeiro, do delator, do jogador que fez o time perder. Judas virou até substantivo. Significa "traidor" em dicionários de português, espanhol, francês, inglês, alemão e italiano. Nem mesmo do todo-misericordioso ele ouviu uma palavra de misericórdia. "Ai daquele por quem o Filho do Homem será entregue", disse o próprio Jesus segundo o Evangelho de São Marcos.

Pela altura da Páscoa deste ano, no entanto, finalmente será conhecida a versão do criminoso. Pela primeira vez será publicado o texto de um manuscrito inédito, cuja autoria é atribuída ao próprio Judas. Identificado como o Evangelho de Judas, o texto integra a série de evangelhos apócrifos, cuja autenticidade não é reconhecida pela Igreja. Sua existência já era cogitada desde que Santo Irineu de Lyon, no século II, citou-o e condenou-o. Trata-se, portanto, de uma revelação arqueológica de valor ä incalculável. Depois de 1.600 anos, finalmente será lido um texto antes inacessível, capaz de lançar luzes sobre os primórdios do cristianismo, com uma visão completamente original da traição que teria levado Jesus à cruz.
De acordo com relatos de especialistas que tiveram acesso ao manuscrito, Judas afirma, em sua versão da história, que não traiu Jesus. A delação aos sacerdotes judeus teria sido, segundo o manuscrito, um desígnio divino para que o Filho de Deus sofresse o martírio e salvasse os homens. Judas também afirma, de acordo com os relatos, que não se enforcou depois, arrasado pela culpa. Teria sido perdoado por Jesus e orientado a se retirar para fazer exercícios espirituais no deserto. O que mais os manuscritos revelam não se sabe. Por enquanto, eles são mantidos em absoluto sigilo nas mãos da Fundação Maecenas, da Basiléia, na Suíça, enquanto são traduzidos do egípcio antigo (o copta) para o inglês, o francês e o alemão. Na verdade, os manuscritos nas mãos dos tradutores seriam uma versão em copta feita no século IV ou V do original grego do século II, possivelmente o texto mencionado por Santo Irineu.

Como o Evangelho de Judas é muito posterior ao tempo em que os eventos teriam ocorrido, não se pode nem mesmo tentar buscar algo nele sobre a figura histórica de Judas. Hoje, o que se sabe sobre Judas está nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João e no Ato dos Apóstolos, um breve relato dos primeiros tempos da Igreja. É bem pouca coisa. Filho de Simão Iscariotes, Judas é sempre o último da lista dos 12 apóstolos citados pelos Evangelhos. A traição é situada no momento em que Jesus falava a seus discípulos no Getsêmani, ou Jardim das Oliveiras, fora dos muros de Jerusalém. No relato dos evangelistas, Judas chega acompanhado de uma multidão armada com paus e espadas. Ao se aproximar do mestre, beija-o na face. O gesto de amor é o sinal da traição. Os enviados dos sacerdotes judeus prendem Jesus e tem início o martírio. Em troca, o delator recebe 30 moedas de prata. Atormentado pela culpa, enforca-se em uma árvore. Com o dinheiro, os sacerdotes compram um terreno para instalar um cemitério.

Nas cartas de Paulo, os mais antigos documentos da nova religião em que o cristianismo estava se transformando, Judas nem é citado. O Evangelho de Marcos, cronologicamente a primeira das narrativas sobre a vida de Jesus, dedica a ele 169 palavras e o apresenta como aquele "que o entregou". À medida que o tempo vai passando, a discussão sobre o papel de Judas parece ocupar mais as comunidades cristãs primitivas, e o personagem ganha cada vez mais espaço. Em Lucas, passa a ser citado como "o traidor" e Satanás entra em seu corpo. O texto também deixa claro que a delação não terá perdão. João, o último dos ä evangelhos, utiliza 489 palavras para retratar Judas como uma figura demoníaca.
A controvérsia sobre o papel de Judas se espalhou para além dos Evangelhos e tem ecos até hoje. O cinema retratou o traidor arquetípico como se ele tivesse motivações humanas compreensíveis ou até justificáveis. No filme O Rei dos Reis, de Cecil B. De Mille, lançado em 1927, Judas está apaixonado por Madalena e trai Jesus por ciúme. Em Jesus Cristo Superstar, sucesso de 1973, o Judas vivido pelo ator negro Carl Anderson parece alguém mais atraído pela luta armada que pela pregação de Jesus. Um Judas pré-revolucionário, quase dissidente, distante da motivação monetária do Judas da Bíblia. O argentino Jorge Luis Borges conclui, em seu conto "Três versões de Judas", que o suposto delator é, na verdade, o verdadeiro salvador da humanidade por ter tornado possível a paixão de Cristo. Até Raul Seixas e Paulo Coelho compuseram, em 1978, uma canção que, lida ao pé da letra, repete o ensinamento do suposto Evangelho de Judas:

Não se trata de uma coincidência. De acordo com alguns estudiosos, o Evangelho de Judas não foi escrito pelo próprio apóstolo traidor. É uma composição do século II feita por gnósticos, membros de uma seita herética do início do cristianismo (leia o quadro ao lado). A seita atribuía a salvação ao conhecimento de uma realidade obscurecida por um mundo que havia sido criado por uma entidade do Mal, numa história parecida com a do filme Matrix, em que o personagem Neo, vivido por Keanu Reeves, desperta de uma ilusão para salvar o mundo. Jesus, para os gnósticos, faz o papel de Neo. A antiga heresia cristã entra na história do pop porque está na base de todo o esoterismo contemporâneo, que já teve em Paulo Coelho um bem-sucedido pregador.
Até mesmo o uso do termo "traidor" para se referir a Judas já foi contestado. Ele pode, segundo alguns, ter sido traduzido com má intenção. A palavra original em grego, paradidomi, significa também "entregar" ou "desistir". O professor canadense William Klassen, da Escola Bíblica de Jerusalém, apontou 59 citações em relação a Judas nos Evangelhos. Desse total, em 27 ocasiões ela é usada com o sentido de deixar, abandonar. Nas outras 32 vezes, significa mesmo trair. A figura visual do traidor ä começou a ganhar forma nos séculos seguintes. Em pinturas medievais, Judas passou a ser retratado vestindo a cor amarela, a mesma de Satanás. Para alguns estudiosos, como o católico Raymond Brown, foram essas obras que começaram a atribuir traços identificados como semitas a Judas.
A possibilidade de que o último dos apóstolos não tenha sido deliberadamente um traidor - ou de que pelo menos   ele não tenha sido assim considerado pelos primeiros cristãos - vem sendo discutida nos meios acadêmicos por estudiosos como o teólogo britânico Hugh Schonfield. "A crucificação de Cristo foi uma reencenação consciente da profecia bíblica, e Judas agiu com consentimento divino", diz o especialista. É para esse debate que o novo manuscrito promete trazer uma contribuição decisiva. "O cristianismo primitivo produziu um monte de documentos e certamente a maior parte deles desapareceu", diz Louis Painchaud, professor da Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da Universidade Laval, no Canadá. Especialista em manuscritos coptas, Painchaud afirma que o cristianismo, em seus primeiros anos, abrigava uma grande diversidade de opiniões. A doutrina sobre a origem e a natureza de Jesus, sobre a ressurreição, as práticas dos sacramentos e da oração, tudo estava em debate. "Muitas figuras, como Maria Madalena, Tiago, Paulo, Pedro, eram apreciadas, reverenciadas e exaltadas por uns e desprezadas por outros", diz. Judas também. "Progressivamente, algumas dessas interpretações foram marginalizadas e desapareceram, enquanto outras se tornaram dominantes." Para o ex-padre e teólogo Fernando Altemeyer, professor da PUC de São Paulo, Judas desempenhou um papel fundamental na história cristã. "Todo o complô entre os sacerdotes judeus e os romanos, no qual Judas tem uma função importante como delator, faz de Jesus um justo perseguido", diz ele. "Mas a atitude do apóstolo traidor não foi muito pior que a de Pedro, que o negou por três vezes, ou que a dos demais apóstolos, que o abandonaram. Judas foi um mal necessário, um inocente útil."
Para a Igreja Católica, porém, os novos manuscritos não devem representar nenhuma mudança de posição teológica. "Essa nova interpretação não vai mudar a teologia. Judas será sempre aquele que traiu Jesus", afirma Luiz Felipe Pondé, professor de Ciências da Religião da PUC de São Paulo e de Comunicação da Faap. "A discussão interessa mais aos estudiosos. Trata-se de uma questão interessante e até mesmo lógica." É elementar, diz Pondé, que Deus usasse os elementos que criou para fazer a Paixão de Cristo acontecer. Na excitação gerada pela descoberta dos manuscritos, o monsenhor Walter Brandmuller, presidente do Comitê Pontifício para as Ciências Históricas, chegou a ser apontado pelo jornal The Times, de Londres, como líder de uma comissão formada pelo Vaticano para a reabilitação de Judas. "Fiquei sabendo que eu estava fazendo isso pelo Times", disse Brandmuller em tom de brincadeira. O jornal depois se retratou, e Brandmuller tenta acalmar um excesso de expectativas. "Trata-se sobretudo de uma contribuição que pode servir para reconstruir a época e o contexto em que se desenvolveu a primeira pregação do cristianismo", afirma ele sobre a publicação do manuscrito.
Prevista para abril na revista National Geographic, a publicação será o capítulo final de uma história que lembra um filme de mistério. Do século IV ou V, data em que supostamente foi produzido, até a década de 1950 ou 1960, quando foi recuperado, o documento ficou conservado dentro de um estojo de pedra. Seu primeiro dono foi um joalheiro egípcio chamado Hannah. Ele tentou vender três tratados, organizados em um livro de capa de couro e folhas gastas de 16 centímetros X 29 centímetros, a um negociador de arte grego chamado Nikolas Koutoulakis. ä Hannah pedia US$ 3 milhões pelo Evangelho de Judas, que ocupava cerca de metade das 62 páginas do calhamaço. A outra parte era composta de cópias do "Primeiro Apocalipse de Tiago" e "Cartas de Paulo para Felipe", dois textos encontrados perto da cidade egípcia de Nag Hammadi, em 1945.
Hannah e Koutoulakis não se entenderam. Em todas as negociações, realizadas em quartos de hotel de Genebra, como nas boas histórias de espionagem, Koutoulakis exigia a presença de Mia, sua jovem amante. Sem jogo de cintura, o grego confiou a ela a negociação. Mia tentou passar a perna em Koutoulakis e, no tumulto que se seguiu, o manuscrito foi rasgado. Uma parte ficou com Mia e desapareceu por longo tempo. Uma página foi destruída. O resto, Koutoulakis conseguiu preservar. Mais tarde, porém, sob ameaça de morte, o grego devolveu tudo a Hannah.
Hannah então tentou vender o que conseguiu recuperar a algumas universidades americanas, como Yale. Mas o preço que pedia era alto demais. A essa altura, a existência dos manuscritos se tornou assunto entre os acadêmicos. O professor James Robinson, da Universidade de Claremont, na Virgínia, foi procurado pelo egípcio em 1983. Nesse mesmo ano, o especialista americano em língua copta Stephen Emmel e o papirologista alemão Ludwig Koenen foram enviados pela Universidade Metodista de Dallas à Suíça com a missão de avaliar os manuscritos, oferecidos enrolados em jornais e guardados em três caixas de sapatos. "As condições em que trabalhei eram muito pouco satisfatórias", disse Emmel. "Tive só meia hora para olhar o manuscrito, não podia fazer imagens nem tomar notas."
Outro estudioso das escrituras bíblicas, Charles Hedrick, professor aposentado da Universidade do Estado do Missouri, afirmou ter visto fotografias de seis páginas danificadas do Evangelho. As negociações de fato só aconteceram em 1999, quando o advogado Mario Jean Roberty, presidente da recém-criada Fundação Maecenas, e sua cliente, a empresária Frieda Nussberger-Tchacos, dona da galeria de arte Nefer, compraram a parte de Mia. No ano seguinte, eles reunificaram o documento ao adquirir os pedaços em posse de Hannah, que estavam depositados no cofre de uma agência do Citibank de Nova York. O Evangelho foi oferecido então ao americano Bruce Ferrini, um negociante de arte de Ohio. O preço pedido já havia baixado bastante. Estava em torno de US$ 750 mil. Não se sabe por que, mas também dessa vez o negócio não deu certo.
O manuscrito saiu então de cena até que, em julho de 2004, durante o 8o Congresso Internacional de Estudos Coptas, em Paris, o professor Rudolph Kasser, da Universidade de Genebra, anunciou que estava traduzindo uma versão do Evangelho de Judas. Aparentemente, Roberty e Frieda desistiram da venda e concentram os esforços na publicação dos manuscritos. O mais recente evangelho apócrifo dificilmente terá força para reverter 2 mil anos de tradição, mas deverá ao menos lançar novas visões sobre os fatos relatados no Novo Testamento. De acordo com Mario Roberty, presidente da Fundação Maecenas, o conteúdo dos manuscritos é explosivo, pois retrata Judas como herói, não como um traidor. Para o especialista americano em copta Stephen Emmel, a descoberta do Evangelho de Judas é tão importante quanto foi a dos manuscritos encontrados em 1945 no deserto egípcio de Nag Hammadi. "Tudo aponta para o Evangelho a que se refere Santo Irineu no século II", diz Emmel. Que revelações terá ele sobre Judas? Se, de fato, o traidor cometeu o suicídio, pecado imperdoável tanto para judeus quanto para cristãos, o Judas instrumento de Deus ficou enterrado no deserto com os manuscritos heréticos. Tem pouca chance de ressuscitar
 O mundo é uma ilusão digital, Jesus conhece o software e Judas é seu ajudante
O mundo é uma prisão. Foi criado por uma entidade inferior má e mantém o homem aferrado a uma ilusão sem   perceber sua verdadeira natureza. O conhecimento permite acordar dessa espécie de pesadelo e viver a vida verdadeira. Essa é a linha mestra da doutrina dos gnósticos. É difícil identificar a origem dela. Junta elementos   judaicos, persas, egípcios. Tudo reinterpretado à luz de sua própria concepção. No século II, eles já eram um grupo forte e organizado e disputavam com outras comunidades cristãs a interpretação correta dos eventos ligados a Jesus. Na disputa pela hegemonia dentro da comunidade, os gnósticos produziram boa parte dos escritos apócrifos, livros falsamente atribuídos a vários personagens bíblicos.
O Evangelho de Judas é um desses escritos. Foi produzido por uma seita especialmente radical dos gnósticos, conhecida como cainita. A entidade criadora má era identificada, pelos gnósticos, como o Deus criador do Antigo Testamento. Como ele era o autor das leis morais que os cristãos herdaram dos judeus, ser contra essas leis era, para os cainitas, uma obrigação. Assim, Caim, o amaldiçoado por Deus por ter matado o próprio irmão, era visto como um libertador. Judas também. E Jesus, que para os gnósticos era um enviado do Deus verdadeiro e bom, superior ao Deus falso e mau do Antigo Testamento.
O gnosticismo foi logo posto à margem do cristianismo hegemônico como uma heresia, um desvio da doutrina aceita. Mas conheceu versões atualizadas ao longo do tempo. Reapareceu na Europa medieval, entre pensadores renascentistas e nas sociedades secretas do século XVIII. Em larga medida, esotéricos contemporâneos como Madame Blavatski e Rudolph Steiner, o idealizador da antroposofia, são tributários das doutrinas gnósticas.
Mas nem todos os apócrifos conhecidos são obras de hereges. Muitas das tradições cristãs mais conhecidas popularmente estão em textos que ficaram de fora dos escritos aceitos na Bíblia, os chamados livros canônicos. A conhecidíssima imagem do presépio, por exemplo, só fica completa com a contribuição dos apócrifos. A presença da vaca e do burro que, com sua respiração, aquecem o Menino Jesus não consta de nenhum Evangelho canônico. Nem a história de Verônica, a mulher que enxugou o rosto de Jesus enquanto ele carregava a cruz e fica com a imagem dele impressa no pano. Os reis magos são três por causa dos apócrifos, também as únicas fontes para seus nomes: Baltazar, Gaspar e Melchior. Os nomes dos pais de Maria, Joaquim e Anan, santos festejados oficialmente pela Igreja Católica, também só constam de escritos que acabaram ficando fora da Bíblia.
As páginas de papiro foram encontradas em um vilarejo no Egito, protegidas por uma caixa de pedra. Sobreviveram 1.600 anos graças ao clima seco da região. Foram vendidas 62 páginas, embrulhadas em uma capa de couro
2 - Rasgados Depois de ter sido reencontrado, há cerca de 50 anos, o documento foi rasgado no sentido vertical numa disputa entre negociantes ocorrida na Suíça. Algumas páginas se perderam durante a confusão

3 - Próprio punho O documento foi citado por Santo Irineu de Lyon, no ano 180. O original diz que o texto teria sido escrito de próprio punho por Judas, no retiro no deserto
4 - Palavras-chave Na última página do manuscrito, que circula na internet, há duas palavras-chave que identificam o documento. São Euangelion (Evangelho, em grego) e Judas
Judas Iscariotes Superstar
 Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavalleri



JUDAS ISCARIOTES SUPERSTAR
               Em A Paixão de Cristo (acima), de Gibson, Judas é perseguido por demônios. Em Jesus Cristo Superstar, é representado por um negro. Em O Evangelho segundo São Mateus, de Pasolini, ele se arrepende
O que dizem os Evangelhos canônicos
 Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavalleri

As narrativas dos apóstolos que compõem o Novo Testamento apresentam contradições quando falam de Judas
 Segundo Mateus
 Judas desempenha um papel importante neste Evangelho
Segundo Mateus, Jesus conversa freqüentemente com Judas Iscariotes. Há uma forte representação moralizante dos acontecimentos narrados pelo apóstolo. No capítulo 10, Judas é apresentado como o 12o apóstolo que trairá o Salvador. Mateus conta como Judas se informa sobre qual quantia ganharia e combina o sinal do beijo. Na última ceia, Jesus avisa que algum apóstolo o entregará. Judas pergunta: "Serei eu, porventura?". Depois da traição, Judas se enforca de tanto remorso. Mas, antes, ele ainda quer devolver o dinheiro. "Pequei, pois traí sangue inocente", diz.
Segundo Marcos
 É considerado o texto bíblico mais antigo a mencionar Judas
O texto de Marcos é o mais curto dos Evangelhos. Logo no início, cita uma lista dos apóstolos. Jesus escolhe Judas para integrar-se ao grupo. Como nos demais Evangelhos, Judas é sempre o último a ser citado. Ao mesmo tempo, a futura traição já é repreendida. Judas, no entanto, não está no centro das atenções. Seu nome é citado apenas três vezes em todo o texto. Na Santa Ceia, quando Jesus fala aos apóstolos da delação, Judas não pergunta nada. Ao contrário do texto de Mateus, Marcos não conta nada sobre o suicídio de Judas.
Segundo Lucas
 Aumenta o papel de Satanás na história de Judas
Relata como os príncipes dos sacerdotes e os escribas buscavam alguma maneira de liquidar Jesus. Escreve que Satanás entrou em Judas e o levou a fazer o acordo para entregar Jesus. Lucas fala de Judas quase como uma ferramenta involuntária do demônio em sua luta contra o poder divino. Em comparação ao que escrevem Mateus e Marcos, na versão de Lucas, Judas não seria     efetivamente responsável por seu papel trágico. Apesar disso, Jesus alerta na Santa Ceia: "Ai daquele homem por quem Ele (o Filho do Homem) há de ser entregue".
Segundo João
 É o texto que mais se diferencia dos outros três canônicos
João não menciona a lista dos 12 apóstolos, na qual Judas apareceria em último lugar. Na Santa Ceia, Jesus diz aos apóstolos quem vai traí-lo: "É aquele a quem eu der um pão molhado". Dito isso, Jesus molha o pão e o dá a Judas, que come. Atrás do bocado, entra Satanás em Judas. E Jesus diz: "O que tens a fazer, faze-o depressa". Mas nenhum dos outros apóstolos à mesa percebeu a propósito de que Jesus proferiu aquelas palavras. No dia da traição, Judas acompanha os soldados que vão prender Jesus, com lanternas e armas.
Lábios da traição
Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavalleri

LÁBIOS DA TRAIÇÃO
O osculum, ou beijo na face, era um cumprimento comum entre os cristãos
De acordo com as escrituras, o beijo era uma forma corriqueira de cumprimento entre pais, mães, filhos e irmãos. Amigos e camaradas também beijavam-se em diversas ocasiões, como à entrada da casa para um banquete, na época de Cristo. Era um símbolo da fraternidade entre os seguidores de Jesus, além de um sinal de respeito e honra. A simbologia do beijo traidor de Judas Iscariotes foi retratada por vários artistas ao longo dos séculos.
 Mestre da Vida de Maria, 1460-1480      Dierick Bouts, 1410-1475
 Escola de Aragão            Mestre da Captura, 1290-1295
 Mestre de Groágmain, 1900       Hans Holbein, 1498



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