O que levou o último dos apóstolos a trair Jesus?
A resposta pode estar em manuscritos inéditos, que trazem a
versão do traidor
Para ele, nunca houve perdão. Há quase 2 mil anos, ele vem
sendo impiedosamente castigado. Em dezenas de países, a cada sábado de aleluia,
Judas Iscariotes, encarnado num boneco grotesco, é vítima de espancamento em
praça pública. Além de ter entregado aos carrascos seu mestre, Jesus, ele paga
pelo que de pior tiver sido feito naquele ano. Assume as feições do político
corrupto, do tirano estrangeiro, do delator, do jogador que fez o time perder.
Judas virou até substantivo. Significa "traidor" em dicionários de
português, espanhol, francês, inglês, alemão e italiano. Nem mesmo do
todo-misericordioso ele ouviu uma palavra de misericórdia. "Ai daquele por
quem o Filho do Homem será entregue", disse o próprio Jesus segundo o
Evangelho de São Marcos.
Pela altura da Páscoa deste ano, no entanto, finalmente será
conhecida a versão do criminoso. Pela primeira vez será publicado o texto de um
manuscrito inédito, cuja autoria é atribuída ao próprio Judas. Identificado
como o Evangelho de Judas, o texto integra a série de evangelhos apócrifos, cuja
autenticidade não é reconhecida pela Igreja. Sua existência já era cogitada
desde que Santo Irineu de Lyon, no século II, citou-o e condenou-o. Trata-se,
portanto, de uma revelação arqueológica de valor ä incalculável. Depois de
1.600 anos, finalmente será lido um texto antes inacessível, capaz de lançar
luzes sobre os primórdios do cristianismo, com uma visão completamente original
da traição que teria levado Jesus à cruz.
De acordo com relatos de especialistas que tiveram acesso ao
manuscrito, Judas afirma, em sua versão da história, que não traiu Jesus. A
delação aos sacerdotes judeus teria sido, segundo o manuscrito, um desígnio
divino para que o Filho de Deus sofresse o martírio e salvasse os homens. Judas
também afirma, de acordo com os relatos, que não se enforcou depois, arrasado
pela culpa. Teria sido perdoado por Jesus e orientado a se retirar para fazer
exercícios espirituais no deserto. O que mais os manuscritos revelam não se
sabe. Por enquanto, eles são mantidos em absoluto sigilo nas mãos da Fundação
Maecenas, da Basiléia, na Suíça, enquanto são traduzidos do egípcio antigo (o
copta) para o inglês, o francês e o alemão. Na verdade, os manuscritos nas mãos
dos tradutores seriam uma versão em copta feita no século IV ou V do original
grego do século II, possivelmente o texto mencionado por Santo Irineu.
Como o Evangelho de Judas é muito posterior ao tempo em que
os eventos teriam ocorrido, não se pode nem mesmo tentar buscar algo nele sobre
a figura histórica de Judas. Hoje, o que se sabe sobre Judas está nos
Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João e no Ato dos Apóstolos, um breve
relato dos primeiros tempos da Igreja. É bem pouca coisa. Filho de Simão
Iscariotes, Judas é sempre o último da lista dos 12 apóstolos citados pelos
Evangelhos. A traição é situada no momento em que Jesus falava a seus
discípulos no Getsêmani, ou Jardim das Oliveiras, fora dos muros de Jerusalém.
No relato dos evangelistas, Judas chega acompanhado de uma multidão armada com
paus e espadas. Ao se aproximar do mestre, beija-o na face. O gesto de amor é o
sinal da traição. Os enviados dos sacerdotes judeus prendem Jesus e tem início
o martírio. Em troca, o delator recebe 30 moedas de prata. Atormentado pela
culpa, enforca-se em uma árvore. Com o dinheiro, os sacerdotes compram um
terreno para instalar um cemitério.
Nas cartas de Paulo, os mais antigos documentos da nova
religião em que o cristianismo estava se transformando, Judas nem é citado. O
Evangelho de Marcos, cronologicamente a primeira das narrativas sobre a vida de
Jesus, dedica a ele 169 palavras e o apresenta como aquele "que o
entregou". À medida que o tempo vai passando, a discussão sobre o papel de
Judas parece ocupar mais as comunidades cristãs primitivas, e o personagem
ganha cada vez mais espaço. Em Lucas, passa a ser citado como "o
traidor" e Satanás entra em seu corpo. O texto também deixa claro que a
delação não terá perdão. João, o último dos ä evangelhos, utiliza 489 palavras
para retratar Judas como uma figura demoníaca.
A controvérsia sobre o papel de Judas se espalhou para além
dos Evangelhos e tem ecos até hoje. O cinema retratou o traidor arquetípico
como se ele tivesse motivações humanas compreensíveis ou até justificáveis. No
filme O Rei dos Reis, de Cecil B. De Mille, lançado em 1927, Judas está apaixonado
por Madalena e trai Jesus por ciúme. Em Jesus Cristo Superstar, sucesso de
1973, o Judas vivido pelo ator negro Carl Anderson parece alguém mais atraído
pela luta armada que pela pregação de Jesus. Um Judas pré-revolucionário, quase
dissidente, distante da motivação monetária do Judas da Bíblia. O argentino
Jorge Luis Borges conclui, em seu conto "Três versões de Judas", que
o suposto delator é, na verdade, o verdadeiro salvador da humanidade por ter
tornado possível a paixão de Cristo. Até Raul Seixas e Paulo Coelho compuseram,
em 1978, uma canção que, lida ao pé da letra, repete o ensinamento do suposto
Evangelho de Judas:
Não se trata de uma coincidência. De acordo com alguns
estudiosos, o Evangelho de Judas não foi escrito pelo próprio apóstolo traidor.
É uma composição do século II feita por gnósticos, membros de uma seita
herética do início do cristianismo (leia o quadro ao lado). A seita atribuía a
salvação ao conhecimento de uma realidade obscurecida por um mundo que havia
sido criado por uma entidade do Mal, numa história parecida com a do filme
Matrix, em que o personagem Neo, vivido por Keanu Reeves, desperta de uma ilusão
para salvar o mundo. Jesus, para os gnósticos, faz o papel de Neo. A antiga
heresia cristã entra na história do pop porque está na base de todo o
esoterismo contemporâneo, que já teve em Paulo Coelho um bem-sucedido pregador.
Até mesmo o uso do termo "traidor" para se referir
a Judas já foi contestado. Ele pode, segundo alguns, ter sido traduzido com má
intenção. A palavra original em grego, paradidomi, significa também
"entregar" ou "desistir". O professor canadense William
Klassen, da Escola Bíblica de Jerusalém, apontou 59 citações em relação a Judas
nos Evangelhos. Desse total, em 27 ocasiões ela é usada com o sentido de
deixar, abandonar. Nas outras 32 vezes, significa mesmo trair. A figura visual do
traidor ä começou a ganhar forma nos séculos seguintes. Em pinturas medievais,
Judas passou a ser retratado vestindo a cor amarela, a mesma de Satanás. Para
alguns estudiosos, como o católico Raymond Brown, foram essas obras que
começaram a atribuir traços identificados como semitas a Judas.
A possibilidade de que o último dos apóstolos não tenha sido
deliberadamente um traidor - ou de que pelo menos ele não tenha sido assim considerado pelos
primeiros cristãos - vem sendo discutida nos meios acadêmicos por estudiosos
como o teólogo britânico Hugh Schonfield. "A crucificação de Cristo foi
uma reencenação consciente da profecia bíblica, e Judas agiu com consentimento
divino", diz o especialista. É para esse debate que o novo manuscrito
promete trazer uma contribuição decisiva. "O cristianismo primitivo
produziu um monte de documentos e certamente a maior parte deles
desapareceu", diz Louis Painchaud, professor da Faculdade de Teologia e
Ciências Religiosas da Universidade Laval, no Canadá. Especialista em manuscritos
coptas, Painchaud afirma que o cristianismo, em seus primeiros anos, abrigava
uma grande diversidade de opiniões. A doutrina sobre a origem e a natureza de
Jesus, sobre a ressurreição, as práticas dos sacramentos e da oração, tudo
estava em debate. "Muitas figuras, como Maria Madalena, Tiago, Paulo,
Pedro, eram apreciadas, reverenciadas e exaltadas por uns e desprezadas por
outros", diz. Judas também. "Progressivamente, algumas dessas
interpretações foram marginalizadas e desapareceram, enquanto outras se
tornaram dominantes." Para o ex-padre e teólogo Fernando Altemeyer,
professor da PUC de São Paulo, Judas desempenhou um papel fundamental na
história cristã. "Todo o complô entre os sacerdotes judeus e os romanos,
no qual Judas tem uma função importante como delator, faz de Jesus um justo
perseguido", diz ele. "Mas a atitude do apóstolo traidor não foi
muito pior que a de Pedro, que o negou por três vezes, ou que a dos demais
apóstolos, que o abandonaram. Judas foi um mal necessário, um inocente útil."
Para a Igreja Católica, porém, os novos manuscritos não
devem representar nenhuma mudança de posição teológica. "Essa nova
interpretação não vai mudar a teologia. Judas será sempre aquele que traiu
Jesus", afirma Luiz Felipe Pondé, professor de Ciências da Religião da PUC
de São Paulo e de Comunicação da Faap. "A discussão interessa mais aos
estudiosos. Trata-se de uma questão interessante e até mesmo lógica." É
elementar, diz Pondé, que Deus usasse os elementos que criou para fazer a Paixão
de Cristo acontecer. Na excitação gerada pela descoberta dos manuscritos, o
monsenhor Walter Brandmuller, presidente do Comitê Pontifício para as Ciências
Históricas, chegou a ser apontado pelo jornal The Times, de Londres, como líder
de uma comissão formada pelo Vaticano para a reabilitação de Judas.
"Fiquei sabendo que eu estava fazendo isso pelo Times", disse
Brandmuller em tom de brincadeira. O jornal depois se retratou, e Brandmuller
tenta acalmar um excesso de expectativas. "Trata-se sobretudo de uma
contribuição que pode servir para reconstruir a época e o contexto em que se
desenvolveu a primeira pregação do cristianismo", afirma ele sobre a
publicação do manuscrito.
Prevista para abril na revista National Geographic, a
publicação será o capítulo final de uma história que lembra um filme de
mistério. Do século IV ou V, data em que supostamente foi produzido, até a
década de 1950 ou 1960, quando foi recuperado, o documento ficou conservado
dentro de um estojo de pedra. Seu primeiro dono foi um joalheiro egípcio
chamado Hannah. Ele tentou vender três tratados, organizados em um livro de
capa de couro e folhas gastas de 16 centímetros X 29 centímetros, a um
negociador de arte grego chamado Nikolas Koutoulakis. ä Hannah pedia US$ 3
milhões pelo Evangelho de Judas, que ocupava cerca de metade das 62 páginas do
calhamaço. A outra parte era composta de cópias do "Primeiro Apocalipse de
Tiago" e "Cartas de Paulo para Felipe", dois textos encontrados
perto da cidade egípcia de Nag Hammadi, em 1945.
Hannah e Koutoulakis não se entenderam. Em todas as
negociações, realizadas em quartos de hotel de Genebra, como nas boas histórias
de espionagem, Koutoulakis exigia a presença de Mia, sua jovem amante. Sem jogo
de cintura, o grego confiou a ela a negociação. Mia tentou passar a perna em
Koutoulakis e, no tumulto que se seguiu, o manuscrito foi rasgado. Uma parte
ficou com Mia e desapareceu por longo tempo. Uma página foi destruída. O resto,
Koutoulakis conseguiu preservar. Mais tarde, porém, sob ameaça de morte, o
grego devolveu tudo a Hannah.
Hannah então tentou vender o que conseguiu recuperar a
algumas universidades americanas, como Yale. Mas o preço que pedia era alto
demais. A essa altura, a existência dos manuscritos se tornou assunto entre os
acadêmicos. O professor James Robinson, da Universidade de Claremont, na
Virgínia, foi procurado pelo egípcio em 1983. Nesse mesmo ano, o especialista
americano em língua copta Stephen Emmel e o papirologista alemão Ludwig Koenen
foram enviados pela Universidade Metodista de Dallas à Suíça com a missão de
avaliar os manuscritos, oferecidos enrolados em jornais e guardados em três
caixas de sapatos. "As condições em que trabalhei eram muito pouco
satisfatórias", disse Emmel. "Tive só meia hora para olhar o manuscrito,
não podia fazer imagens nem tomar notas."
Outro estudioso das escrituras bíblicas, Charles Hedrick,
professor aposentado da Universidade do Estado do Missouri, afirmou ter visto
fotografias de seis páginas danificadas do Evangelho. As negociações de fato só
aconteceram em 1999, quando o advogado Mario Jean Roberty, presidente da
recém-criada Fundação Maecenas, e sua cliente, a empresária Frieda
Nussberger-Tchacos, dona da galeria de arte Nefer, compraram a parte de Mia. No
ano seguinte, eles reunificaram o documento ao adquirir os pedaços em posse de
Hannah, que estavam depositados no cofre de uma agência do Citibank de Nova
York. O Evangelho foi oferecido então ao americano Bruce Ferrini, um negociante
de arte de Ohio. O preço pedido já havia baixado bastante. Estava em torno de
US$ 750 mil. Não se sabe por que, mas também dessa vez o negócio não deu certo.
O manuscrito saiu então de cena até que, em julho de 2004,
durante o 8o Congresso Internacional de Estudos Coptas, em Paris, o professor
Rudolph Kasser, da Universidade de Genebra, anunciou que estava traduzindo uma
versão do Evangelho de Judas. Aparentemente, Roberty e Frieda desistiram da
venda e concentram os esforços na publicação dos manuscritos. O mais recente
evangelho apócrifo dificilmente terá força para reverter 2 mil anos de
tradição, mas deverá ao menos lançar novas visões sobre os fatos relatados no
Novo Testamento. De acordo com Mario Roberty, presidente da Fundação Maecenas,
o conteúdo dos manuscritos é explosivo, pois retrata Judas como herói, não como
um traidor. Para o especialista americano em copta Stephen Emmel, a descoberta
do Evangelho de Judas é tão importante quanto foi a dos manuscritos encontrados
em 1945 no deserto egípcio de Nag Hammadi. "Tudo aponta para o Evangelho a
que se refere Santo Irineu no século II", diz Emmel. Que revelações terá
ele sobre Judas? Se, de fato, o traidor cometeu o suicídio, pecado imperdoável
tanto para judeus quanto para cristãos, o Judas instrumento de Deus ficou
enterrado no deserto com os manuscritos heréticos. Tem pouca chance de
ressuscitar
O mundo é uma ilusão
digital, Jesus conhece o software e Judas é seu ajudante
O mundo é uma prisão. Foi criado por uma entidade inferior
má e mantém o homem aferrado a uma ilusão sem
perceber sua verdadeira natureza. O conhecimento permite acordar dessa
espécie de pesadelo e viver a vida verdadeira. Essa é a linha mestra da
doutrina dos gnósticos. É difícil identificar a origem dela. Junta
elementos judaicos, persas, egípcios.
Tudo reinterpretado à luz de sua própria concepção. No século II, eles já eram
um grupo forte e organizado e disputavam com outras comunidades cristãs a
interpretação correta dos eventos ligados a Jesus. Na disputa pela hegemonia
dentro da comunidade, os gnósticos produziram boa parte dos escritos apócrifos,
livros falsamente atribuídos a vários personagens bíblicos.
O Evangelho de Judas é um desses escritos. Foi produzido por
uma seita especialmente radical dos gnósticos, conhecida como cainita. A
entidade criadora má era identificada, pelos gnósticos, como o Deus criador do
Antigo Testamento. Como ele era o autor das leis morais que os cristãos
herdaram dos judeus, ser contra essas leis era, para os cainitas, uma
obrigação. Assim, Caim, o amaldiçoado por Deus por ter matado o próprio irmão, era
visto como um libertador. Judas também. E Jesus, que para os gnósticos era um
enviado do Deus verdadeiro e bom, superior ao Deus falso e mau do Antigo
Testamento.
O gnosticismo foi logo posto à margem do cristianismo
hegemônico como uma heresia, um desvio da doutrina aceita. Mas conheceu versões
atualizadas ao longo do tempo. Reapareceu na Europa medieval, entre pensadores
renascentistas e nas sociedades secretas do século XVIII. Em larga medida,
esotéricos contemporâneos como Madame Blavatski e Rudolph Steiner, o
idealizador da antroposofia, são tributários das doutrinas gnósticas.
Mas nem todos os apócrifos conhecidos são obras de hereges.
Muitas das tradições cristãs mais conhecidas popularmente estão em textos que
ficaram de fora dos escritos aceitos na Bíblia, os chamados livros canônicos. A
conhecidíssima imagem do presépio, por exemplo, só fica completa com a
contribuição dos apócrifos. A presença da vaca e do burro que, com sua
respiração, aquecem o Menino Jesus não consta de nenhum Evangelho canônico. Nem
a história de Verônica, a mulher que enxugou o rosto de Jesus enquanto ele
carregava a cruz e fica com a imagem dele impressa no pano. Os reis magos são
três por causa dos apócrifos, também as únicas fontes para seus nomes:
Baltazar, Gaspar e Melchior. Os nomes dos pais de Maria, Joaquim e Anan, santos
festejados oficialmente pela Igreja Católica, também só constam de escritos que
acabaram ficando fora da Bíblia.
As páginas de papiro foram encontradas em um vilarejo no
Egito, protegidas por uma caixa de pedra. Sobreviveram 1.600 anos graças ao
clima seco da região. Foram vendidas 62 páginas, embrulhadas em uma capa de
couro
2 - Rasgados Depois de ter sido reencontrado, há cerca de 50
anos, o documento foi rasgado no sentido vertical numa disputa entre
negociantes ocorrida na Suíça. Algumas páginas se perderam durante a confusão
3 - Próprio punho O documento foi citado por Santo Irineu de
Lyon, no ano 180. O original diz que o texto teria sido escrito de próprio
punho por Judas, no retiro no deserto
4 - Palavras-chave Na última página do manuscrito, que
circula na internet, há duas palavras-chave que identificam o documento. São
Euangelion (Evangelho, em grego) e Judas
Judas Iscariotes Superstar
Ivan Padilla e
Marcelo Musa Cavalleri
JUDAS ISCARIOTES SUPERSTAR
Em
A Paixão de Cristo (acima), de Gibson, Judas é perseguido por demônios. Em
Jesus Cristo Superstar, é representado por um negro. Em O Evangelho segundo São
Mateus, de Pasolini, ele se arrepende
O que dizem os Evangelhos canônicos
Ivan Padilla e
Marcelo Musa Cavalleri
As narrativas dos apóstolos que compõem o Novo Testamento
apresentam contradições quando falam de Judas
Segundo Mateus
Judas desempenha um
papel importante neste Evangelho
Segundo Mateus, Jesus conversa freqüentemente com Judas
Iscariotes. Há uma forte representação moralizante dos acontecimentos narrados
pelo apóstolo. No capítulo 10, Judas é apresentado como o 12o apóstolo que
trairá o Salvador. Mateus conta como Judas se informa sobre qual quantia
ganharia e combina o sinal do beijo. Na última ceia, Jesus avisa que algum
apóstolo o entregará. Judas pergunta: "Serei eu, porventura?". Depois
da traição, Judas se enforca de tanto remorso. Mas, antes, ele ainda quer
devolver o dinheiro. "Pequei, pois traí sangue inocente", diz.
Segundo Marcos
É considerado o texto
bíblico mais antigo a mencionar Judas
O texto de Marcos é o mais curto dos Evangelhos. Logo no
início, cita uma lista dos apóstolos. Jesus escolhe Judas para integrar-se ao
grupo. Como nos demais Evangelhos, Judas é sempre o último a ser citado. Ao
mesmo tempo, a futura traição já é repreendida. Judas, no entanto, não está no
centro das atenções. Seu nome é citado apenas três vezes em todo o texto. Na
Santa Ceia, quando Jesus fala aos apóstolos da delação, Judas não pergunta
nada. Ao contrário do texto de Mateus, Marcos não conta nada sobre o suicídio
de Judas.
Segundo Lucas
Aumenta o papel de
Satanás na história de Judas
Relata como os príncipes dos sacerdotes e os escribas
buscavam alguma maneira de liquidar Jesus. Escreve que Satanás entrou em Judas
e o levou a fazer o acordo para entregar Jesus. Lucas fala de Judas quase como
uma ferramenta involuntária do demônio em sua luta contra o poder divino. Em
comparação ao que escrevem Mateus e Marcos, na versão de Lucas, Judas não
seria efetivamente responsável por
seu papel trágico. Apesar disso, Jesus alerta na Santa Ceia: "Ai daquele
homem por quem Ele (o Filho do Homem) há de ser entregue".
Segundo João
É o texto que mais se
diferencia dos outros três canônicos
João não menciona a lista dos 12 apóstolos, na qual Judas
apareceria em último lugar. Na Santa Ceia, Jesus diz aos apóstolos quem vai
traí-lo: "É aquele a quem eu der um pão molhado". Dito isso, Jesus molha
o pão e o dá a Judas, que come. Atrás do bocado, entra Satanás em Judas. E
Jesus diz: "O que tens a fazer, faze-o depressa". Mas nenhum dos
outros apóstolos à mesa percebeu a propósito de que Jesus proferiu aquelas
palavras. No dia da traição, Judas acompanha os soldados que vão prender Jesus,
com lanternas e armas.
Lábios da traição
Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavalleri
LÁBIOS DA TRAIÇÃO
O osculum, ou beijo na face, era um cumprimento comum entre
os cristãos
De acordo com as escrituras, o beijo era uma forma
corriqueira de cumprimento entre pais, mães, filhos e irmãos. Amigos e
camaradas também beijavam-se em diversas ocasiões, como à entrada da casa para
um banquete, na época de Cristo. Era um símbolo da fraternidade entre os
seguidores de Jesus, além de um sinal de respeito e honra. A simbologia do
beijo traidor de Judas Iscariotes foi retratada por vários artistas ao longo
dos séculos.
Mestre da Vida de
Maria, 1460-1480 Dierick Bouts,
1410-1475
Escola de Aragão Mestre da Captura, 1290-1295
Mestre de Groágmain,
1900 Hans Holbein, 1498
Nenhum comentário:
Postar um comentário