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8 de dezembro de 2017

O Apocalipse de Tiago


Foi o Mestre quem falou comigo:
"Tiago meu irmão: Eu te dei um sinal! Veja agora o completamento da minha redenção; pois não foi sem motivo que eu te chamei de irmão, e eu não sou ignorante a teu respeito; então quando eu te der um sinal – reconheça e ouça.
"Nada existia exceto Aquele-que-é. Ele é inominável, eterno, e está além do universo. Eu também sou inominável, já que me foram dados uma porção de nomes - dois por Ele – e agora EU SOU diante de ti. Já que você indaga sobre a fêmea, eu te respondo: a fêmea está presente no Reino Eterno, mas não é a mais elevada. Contudo, ela sem permissão gerou poderes e autoridades por conta própria para regerem o universo. Eles não existiam ainda quando eu surgi, já que eu sou a imagem Daquele-que-é. Eu revelei a forma dele para que os filhos Daquele-que-é saibam quais coisas são deles, e quais coisas são estranhas. Veja! Eu irei explicar todos os aspectos deste mistério para você em breve, pois eles irão me capturar no dia depois de amanhã. Minha redenção está próxima!"
Tiago disse, "Mestre, você falou, 'Eles irão me capturar,' então o que eu farei?" Ele me disse, "Você não temerá, Tiago. Eles te capturarão também. Deixe Jerusalém, pois ela sempre serve o copo da amargura aos Filhos da Luz. Ela é uma habitação para inúmeros arcontes; no entanto, a tua redenção será protegida deles. Para que você possa entender quem, e que tipos de arcontes eles são, você irá conhecê-los bem. Mas lembre-se – eles são apenas doze arcontes principais. Eles não são todos (tão) poderosos nem mesmo fiéis entre si: pois cada um dos doze arcontes se lança sobre outros arcontes em seus próprios céus, com o intuito de devorá-los."
Tiago disse, "Mestre, existem também, então, doze céus, e não sete como está nas escrituras?" O Mestre disse, "Tiago, aquele que falou a respeito da escritura tinha uma compreensão limitada. Mas eu irei revelar para você o que surgiu abaixo daquele que é inumerável, para conceder um sinal acerca deles. Porém, aquele que é imensurável você não poderá ver ainda."
Tiago disse, "Mestre, veja então, eu recebi o número deles já! Existem setenta e duas quantias!" O Mestre disse, "Estes são os setenta e dois aeons do Caos que estão sob o controle dos regentes. Estes são os reinos de todos os deuses deles. Eles estabeleceram estes aeons para aqueles que foram criados por toda a parte no universo, e ainda existem sob a autoridade dos doze arcontes. O poder inferior gerou divindades e criaturas incontáveis para si próprio. Para Aquele-que-é, entretanto, foi dada autoridade sobre todos os reinos, e céus para os anjos Dele, inumeráveis. Você não será capaz de contá-los agora, mesmo se você tentar; pelo menos, não até que você se livre do pensamento cego, e também deste laço de carne que te envolve. Então você poderá alcançar Aquele-que-é e não será mais meramente Tiago; você se tornará O-que-é. E todas as coisas inefáveis serão conhecidas por ti."
Tiago disse, "Então, Mestre, de que modo eu alcançarei Aquele-que-é, já que estes regentes e seus poderes estão armados contra mim?" Ele disse para mim, "Estes regentes não estão armados contra ti especificamente, mas contra outro. Eles armam contra mim! Eles estão armados com suas autoridades. Mas eles estão armados contra mim em julgamento. Eles não me devolveram aquilo que era meu por direito, os espíritos que vieram de mim, então sou eu que devo passar através dos céus deles. No universo deles de tormento e agonia infeliz, eu irei resistir. A Majestade estará comigo, e embora eu possa repreendê-los em nome Dele, eu não irei. Haverá em mim um silêncio e um mistério escondido. Ainda que eu seja pálido diante da raiva deles."
Tiago disse, "Mestre, se eles se armam contra ti, então não podem culpá-lo por erguer a espada da tua boca contra eles.
"Com sabedoria, assim, tu viestes:
Para repreender fantasmas desmemoriados.
Com lembranças tu provas o teu valor
E, deste modo, reprovas estas criaturas teimosas.'
"Mas eu estava preocupado contigo.
" 'Pois tu descestes para dentro da ignorância da morte,
E mesmo assim a ignorância não te pegou, nem emboscou,
Pois tu desces para a insensatez e risco,
E o risco é conquistado, lembranças partilhadas.
" 'Tu andas pelo lodo; tuas vestimentas não se sujam,
Nenhum joelho dobrado te rendeu à lama imunda;
Assim, reinos e alturas de céus tu destróis,
Secretamente invisível, para a dissolução do erro.' "
Ele me respondeu, "E eu não era como eles, mas eu me vesti com tudo o que era deles.
" 'Há em mim um grande esquecimento
Por todas as influências de Beliel e as coisas dele.
Embora o que esteja perdido seja, porém, uma ninharia a menos:
Pois eu lembro de presentes que não são deles.
A distração da mente nos momentos indolentes
Liberta, quando no meio deles, forças inquietantes.' "
Tiago disse, "Mestre, eu não possuo a tua sabedoria nem teus poderes, porém, eu não falhei em socorrer os pobres no sofrimento deles causado pelos perversos. Ainda eu tenho medo dos arcontes, já que eles governam. O que eles farão comigo? O que eu serei capaz de dizer? Que palavra poderei declarar para que eu possa escapar deles?" O Mestre disse, "Tiago, eu admiro o teu entendimento e respeito o teu medo. Caso você continue a ficar angustiado, não se preocupe com nada além da tua própria redenção. Veja, eu irei completar este destino nesta terra do modo como eu proclamei a partir dos grandes Aeons Eternos. E eu te revelarei a tua redenção."
Tiago disse, "Mestre, como, após todas estas coisas, você aparecerá para nós de novo? Após eles te capturarem, e você completar este destino, você irá para Aquele-que-é, não é?" O Mestre respondeu, "Tiago, após estas coisas serem concluídas eu irei revelar tudo para você, e não por tua causa somente, mas por causa de todas as pessoas descrentes, para que a fé possa estar nelas também; pois uma grande multidão virá para a fé e eles aumentarão em dias, trabalhos, e sabedoria. Após isto, eu irei aparecer como uma reprovação aos arcontes. Eu irei revelar a eles que o homem de fé não pode ser capturado. Se eles o capturarem, ele irá acabrunhar cada um deles. Mas agora eu parto. Se lembre das coisas que eu falei e deixe eles irem na tua frente."
Tiago disse, "Mestre, eu irei me apressar como você falou." O Mestre despediu-se dele para cumprir o que era esperado.
»«
Quando Tiago soube dos sofrimentos dele e ficou muito angustiado, eles aguardaram o sinal da vinda dele. Ele voltou depois de vários dias. Tiago estava subindo a montanha chamada "Gólgota" com os discípulos dele que o ouviam atentamente, pois eles estavam muito angustiados. Tiago se tornou um Paracleto para todos eles, dizendo, "Esta é a montanha da morte sobre a qual O Justo veio à vida uma segunda vez. Ela está selada com uma maldição!" Com isto, o grupo de discípulos, percebendo seu tormento, dispersou-se. Mas Tiago permaneceu naquele lugar amaldiçoado e se ajoelhou em oração, jejuando por longas horas, como era de seu costume.
O Mestre apareceu para ele. Então Tiago encerrou sua oração e abraçou o Mestre. Ele o beijou, dizendo, "Mestre, eu te encontrei! Eu ouvi sobre teus sofrimentos e como você resistiu até o fim, e eu estive extremamente angustiado. Minha profunda compaixão você já conhece. Refletindo, eu não estava querendo ver estas pessoas neste lugar. Eles todos devem ser julgados pelo que fizeram, ao contrário do que é esperado."
O Mestre disse, "Tiago, não se preocupe comigo ou com estas pessoas. EU SOU aquele que estava dentro de mim. Eu nunca sofri de modo algum, nem estive angustiado. Estas pessoas não me fizeram mal algum. Eles apenas cumpriram a vontade dos arcontes, e o que foi destruído aqui merecia ser destruído por eles. Agora que os arcontes foram enganados pelas ações destrutivas destas pessoas, e já que eu estou livre do impostor 1, os arcontes estão agora maliciosamente nervosos contigo, meu irmão, porque você é agora o pilar sobre o qual o mundo se equilibra. Até agora, eu tenho sido O Justo e você tem sido o servo dele. Agora, TEU nome será Tiago haZaddiq (Tiago O Justo)."
"Você percebe o quão lúcido você ficou quando me viu? Você até mesmo parou esta oração. Agora que você é O Justo de Deus, você me reconhece o suficiente para me abraçar e beijar. Amém! Eu te digo que você atiçou grande raiva e fúria contra si mesmo. No entanto você não temeu e você me beijou. Isto aconteceu assim para que todos estes outros possam também se tornar Zaddikim (justos)."
Tiago era brando e chorou. Ele estava bastante angustiado. Eles sentaram juntos numa pedra. O Mestre disse a ele, "Tiago, você certamente passará por sofrimentos, mas nunca esteja triste; é a carne que é fraca. A carne recebe o que foi ordenado a ela. Mas quanto a ti, nunca permita que você fique tímido ou medroso frente aos arcontes por causa da carne." Então o Mestre ficou silencioso.
Quando Tiago absorveu estas palavras, ele enxugou as lágrimas dos olhos dele, pois os olhos dele estavam muito vermelhos. Então o Mestre falou para ele novamente, "Tiago, veja! Eu irei mostrar a você o teu resgate de antemão! Após você ter sido capturado e passar por grandes sofrimentos, um bando se armará contra ti e te sequestrará. Em particular, três deles te capturarão – eles sentam em seus domínios celestiais como cobradores de pedágio 2. Não somente eles roubam pedágio, mas alma. Quando você adentrar no poder deles, o guarda deles irá te chamar, 'Quem é você e de onde você veio?' Você deve responder a ele, 'EU SOU filho, e EU SOU do Pai.' Ele irá te perguntar, 'Que tipo de filho é você, e a qual pai você pertence?' Você deve dizer a ele, 'Eu sou do Pai Imortal, e um filho para o Eterno Imortal.' Quando ele te perguntar, 'E o que você acha que tem a tratar conosco?' você deve dizer a ele, 'Eu existo para que eu possa desmascarar estranhos e homens.'
"Quando ele então te questionar, 'Todos os homens são estranhos e todos nós somos estranhos?' você deve dizer a ele, 'Aqueles que eu desmascaro não são totalmente estranhos, mas eles nasceram da alienígena Achamoth, uma mulher decaída; pois ela produziu eles ao conduzir a raça dela abaixo do Eterno Imortal. Então estes não são inteiramente estranhos para nós, já que eles também são nossos parentes, por conta da mãe deles ter vindo do Eterno Imortal. No entanto, eles também são estranhos porque o Eterno Imortal não participou da produção deles por ela'. Quando ele também disser a você, 'Aonde você vai?' você deve dizer a ele, 'Do lugar que vim, para lá eu retornarei.' Se você disser estas palavras, você escapará dos ataques deles.
"Quando você deparar com estes três sequestradores que roubam as almas embora naquele lugar, você será o vaso de autoridade – e muito mais do que apenas um vaso. Você será O Justo pelo qual o mundo surgiu 3. Então você será capaz de discernir a raiz tenra dela. Sendo O Justo, você estará lúcido quando encontrar com os emissários mortíferos dela. Você chamará pelo meu nome e eu solicitarei a sabedoria imperecível do Pai, a Sofia, que é 'mãe' de Achamoth."
"Tiago, Achamoth não teve pai ou consorte masculino; ela é fêmea de uma fêmea. Ela gerou sem um macho, já que ela estava isolada e em ignorância quanto ao que veio da mãe dela. Ela achou que ela existia sozinha como órfã. Mas eu exclamarei para a mãe dela Sofia. Quando eu exclamar, estes sequestradores cairão em confusão. Eles culparão a raiz deles e a raça da mãe deles. Mas você irá subir para Ele-que-é – sua raça raiz genuína – o Pai Eterno Imortal.
"Os doze profetas são uma imitação dos doze discípulos verdadeiros 4 e dos doze arcontes do Caos. Os doze arcontes são da raça da Achamoth, cujo nome é geralmente traduzido como 'Sofia'. Pelo contrário, EU SOU em mim mesmo a Sofia imperecível através da qual você será redimido, e através da qual se tornam todos os filhos Daquele-que-é. Estas imitações já souberam disto, e esconderam isto nelas mesmas.
"Mas você deve guardar o que eu te digo dentro de si e manter silêncio. Revele elas apenas para Addai 5. Imediatamente após você partir, guerra será travada nesta terra. Então chore por aquele que habita em Jerusalém, mas deixe Addai alerta quanto a estas coisas. No décimo ano, faça Addai sentar e escrever todas elas. Quando ele as escrever, vocês todos devem mandar estas cartas para Mateus, pois ele tem a habilidade das letras de tal modo que ele é conhecido como Levi. Então ele deve levar esta palavra, junto com minhas declarações anteriores, para uma certa mulher em Jerusalém; pois ele irá gerar dois filhos através dela. Estes filhos devem herdar minhas palavras, e, por meio delas, compreender aquele a quem - EU QUE SOU - exalta. Estes filhos receberão de Addai uma quantia da própria inteligência dele.
"Agora, o caçula é o mais notável dos dois. E que estas coisas permaneçam escondidas nele até que ele chegue aos dezessete anos; então tudo o que foi falado começará a acontecer por intermédio dele. Multidões perseguirão ele implacavelmente, mesmo estando rodeado de companheiros. Ele será reconhecido pelas multidões por seus trabalhos de sabedoria, e eles também proclamarão esta palavra. Mas ainda outros se tornarão a 'semente da mentira', matando as crianças dele entre as pedras lisas dos vales.' "
Tiago disse, "Eu estou repleto de coisas secretas; sim, elas são um fardo no meu espírito. Ainda eu te pergunto: e quanto às sete mulheres que foram suas discípulas? De fato, todas as mulheres te abençoam. Eu estou impressionado em como vasos fracos se tornam fortes ao descobrirem aquilo que está dentro deles." O Mestre respondeu, "As sete você conhece bem: um espírito de Deus, um espírito de sabedoria, um espírito de compreensão, um espírito de conselho, um espírito de força, um espírito de conhecimento e o espírito do medo delas – todas elas – estas mulheres são como os sete arcanjos (estrelas vivas) que nos acompanharam na nossa descida. Quando nós passamos pela respiração do arconte Adonaios; nós o reconhecemos da época anterior em que viemos. Ele não percebeu que eu passei através do céu dele, mas depois lembrou que eu sou como o filho dele. Então ele foi cortês comigo como um pai seria cortês ao seu filho. Antes de eu aparecer aqui, Adonaios lançou estes arcontes entre estas pessoas. A partir do terceiro céu os profetas proclamaram a queda deles. 'Como você veio a cair dos céus, Estrela d'Alva, filho da Alvorada? Teu orgulho te arremessou abaixo para o Seol com a música das tuas liras.' "
Tiago disse, "Mestre, eu não compreendo de que maneira você veio com estas mulheres todas juntas como um só, e por que o teu benefício está com elas, especialmente ao invés de nós, os homens de Deus." O Mestre disse, "Tiago, louvor será teu enquanto você caminhar pela terra. Eles dirão as palavras, 'Nós não cairemos enquanto Tiago O Justo permanecer sobre o solo.' Você não precisa se preocupar com estas mulheres. Livre-se do copo da amargura. Enquanto você se preocupa com estas mulheres, inimigos impiedosos, alguns em lugares altos, se preparam contra ti. Pois você está começando a entender as origens deles do princípio ao fim. Livre-se da indisciplina. Evite todos eles para que não te invejem. Quando você disser as palavras sobre esta missão, encorage estas quatro: Salomé, Mariam 6, Martia 7 e Arsínoe. Elas serão pilares para o pilar e alicerces para o alicerce.
Estas mulheres serão os primeiros frutos de Deus, mas não como fumaça subindo de oferendas queimadas abomináveis. Elas se erguerão imperecíveis como estrelas no caminho ascendente. Através delas, o poder de Deus se manifestará publicamente, para que os Arcontes possam testemunhar "o perecível se erguendo para a imperecibilidade, ao que o elemento feminino adquire o elemento masculino."
Tiago disse, "de fato, Mestre – para dentro destas redes, então, o caráter feminino delas foi lançado: pois elas foram insultadas, perseguidas e traídas pelos conhecidos delas." O Mestre respondeu, "Veja! Não aceite tudo de ninguém! É você quem irá receber esta compreensão para que você possa revelar os mistérios do Pai para eles, pois você é o Professor Honrado. E o que você não puder suprir, busque e você encontrará. Mas eu prosseguirei agora para revelar que estas mulheres devem perfeitamente acreditar em ti, para que elas possam estar seguras na grande afirmação delas até a salvação, e esta revelação possa se cumprir."
E Tiago foi imediatamente e repreendeu os doze, e removeu deles a presunção que eles fomentavam, na ignorância deles, a respeito do Caminho. A maior parte dos discípulos, quando eles viram a identidade do mensageiro e ouviram a reprovação e o ensinamento dele, respondeu, "Amém, que assim seja, irmão." Mas outros, inclusive profetas, ameaçaram, dizendo "Vamos jogar este homem da altura para o chão, pois ele não é mais digno de vida." E eles pegaram Tiago. Mas aqueles outros que humildemente receberam o mensageiro ficaram horrorizados. Eles se levantaram contra seus irmãos, dizendo, "Nós não tomaremos parte em derramamento de sangue, como O Justo morrendo pela injustiça." E do meio deles, Tiago partiu. Nós não seríamos capazes de encontrâ-lo nem mesmo se o procurássemos.



O Apocalipse de Tiago

1. Ao destruirem a forma carnal, os arcontes destroem um produto da sua própria criação. No Segundo Tratado do Grande Seth o Salvador revela, "Pois a minha morte que eles acham que aconteceu, aconteceu para eles no engano e na cegueira deles, sendo que eles pregaram o homem deles para a condenação deles."
2. Na literatura do Cristianismo Ortodoxo Oriental há o mesmo conceito sobre a existência de cobradores de pedágio nas regiões superiores da atmosfera terrestre, no caminho que a alma deve passar durante a sua ascensão pelos céus, são as chamadas 'casas de pedágio aéreas'. Nelas, a alma é confrontada por demônios acusadores, e cobradores exigem que ela pague fiança para não ficar detida em seus domínios de tormento. O valor depende das ações boas e más que a pessoa acumulou em vida. Alguém com muitas ações ruins tem uma dívida maior a pagar. Quando a alma é virtuosa, um anjo a acompanha e quita sua dívida com os cobradores.
3. Evangelho de Tomé – 12. Jesus disse a eles: Não importa onde vocês estiverem, vocês devem ir até Tiago O Justo, por quem o céu e a terra surgiram.
4. No Segundo Tratado do Grande Seth Jesus afirma, "Os 12 profetas eram motivo de chacota, já que eles vieram como imitações dos verdadeiros discípulos."
5. Tadeu de Edessa.
6. e 7. As irmãs Maria e Marta, de Betânia, irmãs de Lázaro.

Revisado em 09/01/2015


26 de junho de 2017

Carta a Diagoneto

Autor: Desconhecido
A Epístola de Mathetes a Diogneto (em grego: Πρὸς Διόγνητον Ἐπιστολή) é provavelmente o exemplo mais antigo de apologética Cristã, textos defendendo o cristianismo de seus acusadores. O autor e o destinatário, gregos, não são conhecidos, mas a linguagem e outras evidências textuais colocam a obra no final do século II d.C. Alguns assumem uma data ainda mais antiga e contam a epístola entre os Padres Apostólicos
"Mathetes" não é um nome próprio e significa apenas "um discípulo". O autor é um cristão joanino que não usa o termo "Jesus" e nem a palavra "Cristo", preferindo o uso de "O Verbo".
Um "Diognetus" foi um tutor do imperador romano Marco Aurélio, que o admirava por não ser supersticioso e pelos sólidos conselhos educacionais (Meditações 1.6), mas é improvável que seja ele o destinatário desta apologia. Mais provável é 'o excelentíssimo Diognetus', Cláudio Diogenes, que era procurador de Alexandria na virada do século II para o III d.C.

A Epístola sobreviveu em dois manuscritos. Um terceiro, num códice do século XIII d.C. que incluía textos atribuídos à Justini mártir, se perdeu num incêndio em Estrasburgo  em 1870 durante a guerra franco prussiana . Os outros dois são provavelmente uma cópia dele. Felizmente, ele já tinha sido publicado, a primeira vez em 1592, quando acreditava-se que a autoria era de Justino por conta do contexto em que foi encontrada a Epístola, no códice. Em todos os manuscritos, duas linhas estão faltando no meio. O manuscrito do século XIII d.C. obviamente estava danificado ali e as cópias foram feitas após essa parte do texto ter se perdido.

Um pagão culto, desejoso de conhecer melhor a nova religião que se espalhava pelas províncias do império romano, impressionado pela maneira como os cristãos desprezavam o mundo, a morte e os deuses pagãos, pelo amor com que se amavam, queria saber: que Deus era aquele em quem confiavam e que gênero de culto lhe prestavam; de onde vinha aquela raça nova e por que razões aparecera na história tão tarde.

Foi para responder a estas e outras questões de igual importância que nasceu esta jóia da literatura cristã primitiva, o escrito que conhecemos como Epístola a Diogneto.

O texto se revela, simultaneamente, como crítica do paganismo e do judaísmo e defesa da superioridade do cristianismo.

Sobre este documento, infelizmente, não se sabe muita coisa. Elementos importantes que ajudam a determinar e caracterizar uma obra, tais como autor, data e local de composição, bem como o destinatário, ficam na sombra. De qualquer maneira trata-se de um documento de primeira grandeza sobre a vida cristã primitiva que merece ser colocado entre as obras mais brilhantes da literatura cristã.

De acordo com os últimos estudos o destinatário mais provável seria o imperador Adriano, que exercia a função de arconte em Atenas desde 112 d.C.


EPÍSTOLA A DIONETO (íntegra do texto)


Exórdio

Excelentíssimo Diogneto,

1. Vejo que te interessas em aprender a religião dos cristãos e que, muito sábia e cuidadosamente te informaste sobre eles: Qual é esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os gregos reconhecem, nem observem a crença dos judeus; que tipo de amor é esse que eles têm uns para com os outros; e, finalmente, por que esta nova estirpe ou gênero de vida apareceu agora e não antes. Aprovo este teu desejo e peço a Deus, o qual preside tanto o nosso falar como o nosso ouvir, que me conceda dizer de tal modo que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa aquele que falou.

Refutação da idolatria

2. Comecemos. Purificado de todos os preconceitos que se amontoam em sua mente; despojado do teu hábito enganador, e tornado, pela raiz, homem novo; e estando para escutar, como confessas, uma doutrina nova, vê não somente com os olhos, mas também com a inteligência, que substância e que forma possuem os que dizeis que são deuses e assim os considerais; não é verdade que um é pedra, como a que pisamos; outro é bronze, não melhor que aquele que serve para fazer os utensílios que usamos; outro é madeira que já está podre; outro ainda é prata, que necessita de alguém que o guarde, para que não seja roubado; outro é ferro, consumido pela ferrugem; outro de barro, não menos escolhido que aquele usado para os serviços mais vis? Tudo isso não é de material corruptível? Não são lavrados com o ferro e o fogo? Não foi o ferreiro que modelou um, o ourives outro e o oleiro outro? Não é verdade que antes de serem moldados pelos artesãos na forma que agora têm, cada um deles poderia ser, como agora transformado em outro? E se os mesmos artesãos trabalhassem os mesmos utensílios do mesmo material que agora vemos, não poderiam transformar-se em deuses como esses? E, ao contrário, esses que adorais, não poderiam transformar-se, por mãos de homens, em utensílios semelhantes aos demais? Essas coisas todas não são surdas, cegas, inanimadas, insensíveis, imóveis? Não apodrecem todas elas? Não são destrutíveis? A essas coisas chamais de deuses, as servis, as adorais, e terminais sendo semelhante a elas. Depois, odiais os cristãos, porque estes não os consideram deuses. Contudo, vós que os julgais e imaginais deuses, não os desprezais mais do que eles? Por acaso não zombais deles e os cobris ainda mais de injúrias, vós que venerais deuses de pedra e de barro, sem ninguém que os guarde, enquanto fechais à chave, durante a noite, aqueles feitos de prata e de ouro, e de dia colocais guardas para que não sejam roubados? Com as honras que acreditais tributar-lhes, se é que eles têm sensibilidade, na verdade os castigais com elas; por outro lado, se são insensíveis, vós os envergonhais com sacrifícios de sangue e gordura. Caso contrário, que alguém de vós prove essas coisas e permita que elas lhe sejam feitas. Mas o homem, espontaneamente, não suportaria tal suplício, porque tem sensibilidade e inteligência; a pedra, porém, suporta tudo, porque é insensível. Concluindo, eu poderia dizer-te outras coisas sobre o motivo que os cristãos têm para não se submeterem a esses deuses. Se o que eu disse parece insuficiente para alguém, creio que seja inútil dizer mais alguma coisa.

Refutação do culto judaico

3. Por outro lado, creio que desejais particularmente saber por que eles não adoram Deus à maneira dos judeus. Os judeus têm razão quando rejeitam a idolatria, de que falamos antes, e prestam culto a um só Deus, considerando-o Senhor do universo.Contudo, erram quando lhe prestam um culto semelhante ao dos pagãos. Assim como os gregos demonstram idiotice, sacrificando a coisas insensíveis e surdas, eles também, pensando em oferecer coisas a Deus, como se ele tivesse necessidade delas, realizam algo que é parecido a loucura, e não um ato de culto. “Quem fez o céu e a terra, e tudo o que neles existe”, e que provê todo aquilo de que necessitamos, não tem necessidade nenhuma desses bens.Ele próprio fornece as coisas àqueles que acreditam oferece-las a ele. Aqueles que crêem oferecer-lhe sacrifícios com sangue, gordura e holocaustos, e que o enaltecem com esses atos, não me parecem diferentes daqueles que tributam reverência a ídolos surdos, que não podem participar do culto. Os outros imaginam estar dando algo a quem de nada precisa.

O ritualismo judaico

4. Não creio que tenhas necessidade de que eu te informe sobre o escrúpulo deles a respeito de certos alimentos, a sua superstição sobre os sábados, seu orgulho da circuncisão, seu fingimento com jejuns e novilúnios, coisas todas ridículas, que não merecem nenhuma consideração. Não será injusto aceitar algumas das coisas criadas por Deus para uso dos homens como bem criadas e rejeitar outras como inúteis e supérfluas? Não é sacrílego caluniar a Deus, imaginando que nos proíbe fazer algum bem em dia de sábado? Não é digno de zombaria orgulhar-se da mutilação do corpo como sinal de eleição, acreditando, com isso ser particularmente amados por Deus? E o fato de estar em perpétua vigilância diante dos astros e da lua, para calcular os meses e os dias, e distribuir as disposições de Deus, e dividir as mudanças das estações conforme seus próprios impulsos, umas para festa e outras para luto? Quem consideraria isto prova de insensatez e não de religião? Penso que agora tenhas entendido suficientemente por que os cristãos estão certos em se abster da vaidade e do engano, assim como das complicadas observâncias e das vanglórias dos judeus. Não creias poder aprender do homem o mistério de sua própria religião.

Os mistérios cristãos

5. Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casa gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros.Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio.

A alma do mundo

6. Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim estão os cristãos no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo.A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são vistos no mundo, mas sua religião é invisível. A carne odeia e combate a alma, embora não tenha recebido nenhuma ofensa dela, porque esta a impede de gozar dos prazeres; embora não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os odeia, porque estes se opõem aos prazeres. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; também os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o corpo; também os cristãos estão no mundo como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo.A alma imortal habita em uma tenda mortal; também os cristãos habitam como estrangeiros em moradas que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada em comidas e bebidas, a alma torna-se melhor; também os cristãos, maltratados, a cada dia mais se multiplicam. Tal é o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele desertar.

Origem divina do cristianismo

7. De fato, como já disse, não é uma invenção humana que lhes foi transmitida, nem julgam digno observar com tanto cuidado um pensamento mortal, nem se lhes confiou a administração de mistérios humanos. Ao contrario, aquele que é verdadeiramente senhor e criador de tudo, o Deus invisível, ele próprio fez descer do céu, para o meio dos homens, a verdade, a palavra santa e incompreensível, e a colocou em seus corações. Fez isso, não m,andando para os homens, como alguém poderia imaginar, algum dos seus servos, ou um anjo, ou algum príncipe daqueles que governam as coisas terrestres, ou algum dos que são encarregados das administrações dos céus, mas o próprio artífice e criador do universo; aquele por meio do qual ele criou os céus e através do qual encerrou o mar em seus limites; aquele cujo mistério todos os elementos guardam fielmente; aquele de cuja mão o sol recebeu as medidas que deve observar em seu curso cotidiano; aquele a quem a lua obedece, quando lhe manda luzir durante a noite; aquele a quem obedecem as estrelas que formam o séqüito da lua em seu percurso; aquele que, finalmente, por meio do qual todo foi ordenado, delimitado e disposto: os céus e as coisas que existem nos céus, a terra e as coisas que existem na terra, o mar e as coisas que existem no mar, o fogo, o ar, o abismo, aquilo que está no alto, o que está no profundo e o que está no meio. Foi esse que Deus enviou. Talvez, como alguém poderia pensar, será que o enviou para que existisse uma tirania ou para infundir-nos medo e prostração? De modo algum. Ao contrário, enviou-o com clemência e mansidão, como um rei que envia seu filho. Deus o enviou, e o enviou como homem para os homens; enviou-o para nos salvar, para persuadir, e não para violentar, pois em Deus não há violência. Enviou-o para chamar, e não para castigar; enviou-o, finalmente, para amar, e não para julgar. Ele o enviará para julgar, e quem poderá suportar sua presença? Não vês como os cristãos são jogados às feras, para que reneguem o Senhor, e não se deixam vencer? Não vês como quanto mais são castigados com a morte, tanto mais outros se multiplicam? Isso não parece obra humana. Isso pertence ao poder de Deus e prova a sua presença.

A Encarnação

8. Quem de todos os homens sabia o que é Deus, antes que ele próprio viesse? Quererás aceitar os discursos vazios e estúpidos dos filósofos, que por certo são dignos de toda fé? Alguns afirmam que Deus é o fogo - para onde irão estes, chamando-o de deus? - Outros diziam que é água. Outros ainda que é dos elementos criados por Deus. Não há dúvida de que se alguma dessas afirmações é aceitável, poderíamos também afirmar que cada uma de todas as criaturas igualmente manifesta Deus. Mas todas essas coisas são charlatanices e invenções de charlatães. Nenhum homem viu, nem conheceu a Deus, mas ele próprio se revelou a nós. Revelou-se mediante a fé, unicamente pala qual é concedido ver a Deus. Deus, Senhor e criador do universo, que fez todas as coisas e as estabeleceu em ordem, não só se mostrou amigo dos homens, mas também paciente. Ele sempre foi assim, continua sendo, e o será: clemente, bom, manso e verdadeiro. Somente ele é bom. Tendo concebido grande e inefável projeto, ele o comunicou somente ao Filho. Enquanto o mantinha no mistério e guardava sua sábia vontade, parecia que não cuidava de nós, não pensava em nós. Todavia, quando, por meio de seu Filho amado, revelou e manifesto o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu-nos junto todas as coisas: não só participar de seu benefícios, mas ver e compreender coisas que nenhum de nós teria jamais esperado.

A economia divina

9. Quando Deus dispôs todo em si mesmo juntamente com seu Filho, no tempo passado, ele permitiu que nós, conforme a nossa vontade, nos deixássemos arrastar por nossos impulsos desordenados, levados por prazeres e concupiscências. Ele não se comprazia com os nossos pecados, mas também os suportava. Também não aprovava aquele tempo de injustiça, mas preparava o tempo atual de justiça, para que nos convencêssemos de que naquele tempo, por causa de nossas obras, éramos indignos da vida, e agora, só pela bondade de Deus, somos dignos dela. Também para que ficasse claro que por nossas forças era impossível entrar no Reino de Deus, e que somente pelo seu poder nos tornamos capazes disso. Quando a nossa injustiça chegou ao máximo e ficou claro que a única retribuição que poderiam esperar era castigo e morte, chegou o tempo que Deus estabelecera para manifestar a sua bondade e o seu poder. Oh imensa bondade e amor de Deus! Ele não nos odiou, não nos rejeitou, nem guardou ressentimento contra nós. Pelo contrário, mostrou-se paciente e nos suportou. Com, misericórdia tomou para si os nossos pecados e enviou o seu Filho para nos resgatar: o santo pelos ímpios, o inocente pelos maus, o justo pelos injustos, o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal pelos mortais. De fato, que outra coisa poderia cobrir nossos pecados, senão a sua justiça? Por meio de quem poderíamos ter sido justificados nós, injustos e ímpios, a não ser unicamente pelo Filho de Deus? Oh doce troca, oh obra insondável, oh inesperados benefícios! A injustiça de muito é reparada por um só justo, e a justiça de um só torna justos muitos outros. Ele antes nos convenceu da impotência da nossa natureza para ter a vida; agora mostra-nos o salvador capaz de salvar até mesmo o impossível Com essas duas coisas, ele quis que confiássemos na sua bondade e considerássemos nosso sustentador, pai, mestre, conselheiro, médico, inteligência, luz, homem, glória, força, vida, sem preocupações com a roupa e o alimento.

A essência da nova religião

10. Se também desejas alcançar esta fé, primeiro deves obter o conhecimento do Pai. Deus, com efeito, amou os homens. Para eles criou o mundo e a eles submeteu todas as coisas que estão sobre a terra. Deu-lhes a palavra e a razão, e só a eles permitiu contemplá-lo. Formou-os à sua imagem, enviou-lhes o seu Filho unigênito, anunciou-lhes o reino do céu, e o dará àqueles que o tiverem amado. Depois de conhece-lo, tens idéia da alegria com que será preenchido? Como não amarás aquele que tanto te amou? Amando-o, tu te tornarás imitador da sua bondade. Não te maravilhes de que um homem possa se tornar imitador de Deus. Se Deus quiser, o homem poderá. A felicidade não está em oprimir o próximo, ou em querer estar pro cima dos mais fracos, ou enriquecer-se e praticar violência contra os inferiores. Deste modo, ninguém pode imitar a Deus, pois tudo isto está longe de sua grandeza. Todavia, quem toma para si o peso do próximo, e naquilo que é superior procura beneficiar o inferior; aquele que dá aos necessitados o que recebeu de Deus, é como Deus para os que receberam de sua mão, é imitador de Deus. Então, ainda estando na terra, contemplarás porque Deus reina nos céus. Aí começarás a falar dos mistérios de Deus, amarás e admirarás os que são castigados por não querer negar a Deus. Condenarás o erro e o engano do mundo, quando realmente conheceres a vida no céu, quando desprezares esta vida que aqui parece morte, e temeres a morte verdadeira, reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno, que atormentarás até o fim aqueles que lhe forem entregues. Se conheceres este fogo, ficarás admirado, e chamarás de felizes aqueles que, com justiça, suportaram o fogo passageiro.

O discípulo do Verbo

11. Não falo de coisas estranhas, nem busco coisas absurdas. Discípulo dos apóstolos, torno-me agora mestre das nações e transmito o que me foi entregue para aqueles que se tornaram discípulos dignos da verdade. De fato quem foi retamente instruído e gerado pelo Verbo amável, não procura aprender com clareza o que o mesmo Verbo claramente mostrou aos seus discípulos? O Verbo apareceu para eles, manifestando-se e falando livremente. Os incrédulos não o compreenderam, mas ele guiou os discípulos que julgou fiéis, e estes conheceram os mistérios do Pai. Deu enviou o Verbo como graça, para que se manifestasse ao mundo. Desprezado pelo povo, foi anunciado pelos apóstolos a acreditado pelos pagãos. Desde o princípio e apareceu como novo e era antigo, a agora sempre se torna novo nos corações dos fiéis. Ele é desde sempre, e hoje é reconhecido como Filho. Por meio dele, a Igreja se enriquece e a graça se multiplica, difundindo-se nos fiéis. Essa graça inspira a sabedoria, desvela os mistérios e anuncia os tempos, alegra-se nos fiéis, entrega-se aos que a buscam, sem infringir as regras da fé nem ultrapassar os limites dos Padres. Celebra-se então o temor da lei, reconhecesse a graça dos profetas, conserva-se a fé dos evangelhos, guarda-se a tradição dos apóstolos e a graça da Igreja exulta. Não contristando essa graça, saberás o que o Verbo diz por meio dos que ele quer e quando quer. Com efeito, quantas coisas fomos levados a vos explicar com zelo pala vontade do Verbo que no-las inspira! Nós vos comunicamos por amor essas mesmas coisas que nos foram reveladas.

A verdadeira ciência

12. Atendendo e ouvindo com cuidado, conhecereis que coisas Deus prepara para os que o amam com lealdade. Transformam-se em paraíso de delícias, produzindo em si mesmos uma arvora fértil e frondosa, ornados com toda a variedade de frutos. Com efeito, neste lugar foi plantada a árvore da ciência e a arvora da vida; não é a arvora da ciência que mata, e sim a desobediência. Não é sem sentido que está escrito: No princípio Deus plantou a arvora da ciência da vida no meio do paraíso, indicando assim a vida por meio da ciência. Contudo, por não tê-la usado de maneira pura, os primeiros homens ficaram nus por causa da sedução da serpente. De fato, não há vida sem ciência, nem ciência segura sem verdadeira vida, e por isso as duas árvores foram plantadas uma perto da outra. Compreendendo essa força e lastimando a ciência que se exercita sobre a vida sem a norma da verdade, o Apóstolo diz: “A ciência incha; o amor, porém, edifica.” De fato, quem pensa que sabe alguma coisa sem a verdadeira ciência, testemunhada pela vida, não sabe nada: é enganado pala serpente, não tendo amado a vida. Aquele, porém, que sabe com temor e procura a vida, planta na esperança, esperando o fruto. Que a ciência seja coração para ti; a vida seja o Verbo verdadeiramente compreendido. Levando a arvora dele e produzindo fruto, sempre colherás o que é agradável diante de Deus, o que a serpente não toca, nem se mistura em engano; nem Eva é corrompida, mas reconhecida como virgem. A salvação é mostrada, os apóstolos são compreendidos, a Páscoa do Senhor se adianta, os círios se reúnem, harmoniza-se com o mundo e, instruindo os santos, o Verbo se alegra, pelo qual o Pai é glorificado. A ele, a glória pelos séculos. Amém. 

17 de outubro de 2013

O Evangelho segundo Judas


O que levou o último dos apóstolos a trair Jesus?

A resposta pode estar em manuscritos inéditos, que trazem a versão do traidor
Para ele, nunca houve perdão. Há quase 2 mil anos, ele vem sendo impiedosamente castigado. Em dezenas de países, a cada sábado de aleluia, Judas Iscariotes, encarnado num boneco grotesco, é vítima de espancamento em praça pública. Além de ter entregado aos carrascos seu mestre, Jesus, ele paga pelo que de pior tiver sido feito naquele ano. Assume as feições do político corrupto, do tirano estrangeiro, do delator, do jogador que fez o time perder. Judas virou até substantivo. Significa "traidor" em dicionários de português, espanhol, francês, inglês, alemão e italiano. Nem mesmo do todo-misericordioso ele ouviu uma palavra de misericórdia. "Ai daquele por quem o Filho do Homem será entregue", disse o próprio Jesus segundo o Evangelho de São Marcos.

Pela altura da Páscoa deste ano, no entanto, finalmente será conhecida a versão do criminoso. Pela primeira vez será publicado o texto de um manuscrito inédito, cuja autoria é atribuída ao próprio Judas. Identificado como o Evangelho de Judas, o texto integra a série de evangelhos apócrifos, cuja autenticidade não é reconhecida pela Igreja. Sua existência já era cogitada desde que Santo Irineu de Lyon, no século II, citou-o e condenou-o. Trata-se, portanto, de uma revelação arqueológica de valor ä incalculável. Depois de 1.600 anos, finalmente será lido um texto antes inacessível, capaz de lançar luzes sobre os primórdios do cristianismo, com uma visão completamente original da traição que teria levado Jesus à cruz.
De acordo com relatos de especialistas que tiveram acesso ao manuscrito, Judas afirma, em sua versão da história, que não traiu Jesus. A delação aos sacerdotes judeus teria sido, segundo o manuscrito, um desígnio divino para que o Filho de Deus sofresse o martírio e salvasse os homens. Judas também afirma, de acordo com os relatos, que não se enforcou depois, arrasado pela culpa. Teria sido perdoado por Jesus e orientado a se retirar para fazer exercícios espirituais no deserto. O que mais os manuscritos revelam não se sabe. Por enquanto, eles são mantidos em absoluto sigilo nas mãos da Fundação Maecenas, da Basiléia, na Suíça, enquanto são traduzidos do egípcio antigo (o copta) para o inglês, o francês e o alemão. Na verdade, os manuscritos nas mãos dos tradutores seriam uma versão em copta feita no século IV ou V do original grego do século II, possivelmente o texto mencionado por Santo Irineu.

Como o Evangelho de Judas é muito posterior ao tempo em que os eventos teriam ocorrido, não se pode nem mesmo tentar buscar algo nele sobre a figura histórica de Judas. Hoje, o que se sabe sobre Judas está nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João e no Ato dos Apóstolos, um breve relato dos primeiros tempos da Igreja. É bem pouca coisa. Filho de Simão Iscariotes, Judas é sempre o último da lista dos 12 apóstolos citados pelos Evangelhos. A traição é situada no momento em que Jesus falava a seus discípulos no Getsêmani, ou Jardim das Oliveiras, fora dos muros de Jerusalém. No relato dos evangelistas, Judas chega acompanhado de uma multidão armada com paus e espadas. Ao se aproximar do mestre, beija-o na face. O gesto de amor é o sinal da traição. Os enviados dos sacerdotes judeus prendem Jesus e tem início o martírio. Em troca, o delator recebe 30 moedas de prata. Atormentado pela culpa, enforca-se em uma árvore. Com o dinheiro, os sacerdotes compram um terreno para instalar um cemitério.

Nas cartas de Paulo, os mais antigos documentos da nova religião em que o cristianismo estava se transformando, Judas nem é citado. O Evangelho de Marcos, cronologicamente a primeira das narrativas sobre a vida de Jesus, dedica a ele 169 palavras e o apresenta como aquele "que o entregou". À medida que o tempo vai passando, a discussão sobre o papel de Judas parece ocupar mais as comunidades cristãs primitivas, e o personagem ganha cada vez mais espaço. Em Lucas, passa a ser citado como "o traidor" e Satanás entra em seu corpo. O texto também deixa claro que a delação não terá perdão. João, o último dos ä evangelhos, utiliza 489 palavras para retratar Judas como uma figura demoníaca.
A controvérsia sobre o papel de Judas se espalhou para além dos Evangelhos e tem ecos até hoje. O cinema retratou o traidor arquetípico como se ele tivesse motivações humanas compreensíveis ou até justificáveis. No filme O Rei dos Reis, de Cecil B. De Mille, lançado em 1927, Judas está apaixonado por Madalena e trai Jesus por ciúme. Em Jesus Cristo Superstar, sucesso de 1973, o Judas vivido pelo ator negro Carl Anderson parece alguém mais atraído pela luta armada que pela pregação de Jesus. Um Judas pré-revolucionário, quase dissidente, distante da motivação monetária do Judas da Bíblia. O argentino Jorge Luis Borges conclui, em seu conto "Três versões de Judas", que o suposto delator é, na verdade, o verdadeiro salvador da humanidade por ter tornado possível a paixão de Cristo. Até Raul Seixas e Paulo Coelho compuseram, em 1978, uma canção que, lida ao pé da letra, repete o ensinamento do suposto Evangelho de Judas:

Não se trata de uma coincidência. De acordo com alguns estudiosos, o Evangelho de Judas não foi escrito pelo próprio apóstolo traidor. É uma composição do século II feita por gnósticos, membros de uma seita herética do início do cristianismo (leia o quadro ao lado). A seita atribuía a salvação ao conhecimento de uma realidade obscurecida por um mundo que havia sido criado por uma entidade do Mal, numa história parecida com a do filme Matrix, em que o personagem Neo, vivido por Keanu Reeves, desperta de uma ilusão para salvar o mundo. Jesus, para os gnósticos, faz o papel de Neo. A antiga heresia cristã entra na história do pop porque está na base de todo o esoterismo contemporâneo, que já teve em Paulo Coelho um bem-sucedido pregador.
Até mesmo o uso do termo "traidor" para se referir a Judas já foi contestado. Ele pode, segundo alguns, ter sido traduzido com má intenção. A palavra original em grego, paradidomi, significa também "entregar" ou "desistir". O professor canadense William Klassen, da Escola Bíblica de Jerusalém, apontou 59 citações em relação a Judas nos Evangelhos. Desse total, em 27 ocasiões ela é usada com o sentido de deixar, abandonar. Nas outras 32 vezes, significa mesmo trair. A figura visual do traidor ä começou a ganhar forma nos séculos seguintes. Em pinturas medievais, Judas passou a ser retratado vestindo a cor amarela, a mesma de Satanás. Para alguns estudiosos, como o católico Raymond Brown, foram essas obras que começaram a atribuir traços identificados como semitas a Judas.
A possibilidade de que o último dos apóstolos não tenha sido deliberadamente um traidor - ou de que pelo menos   ele não tenha sido assim considerado pelos primeiros cristãos - vem sendo discutida nos meios acadêmicos por estudiosos como o teólogo britânico Hugh Schonfield. "A crucificação de Cristo foi uma reencenação consciente da profecia bíblica, e Judas agiu com consentimento divino", diz o especialista. É para esse debate que o novo manuscrito promete trazer uma contribuição decisiva. "O cristianismo primitivo produziu um monte de documentos e certamente a maior parte deles desapareceu", diz Louis Painchaud, professor da Faculdade de Teologia e Ciências Religiosas da Universidade Laval, no Canadá. Especialista em manuscritos coptas, Painchaud afirma que o cristianismo, em seus primeiros anos, abrigava uma grande diversidade de opiniões. A doutrina sobre a origem e a natureza de Jesus, sobre a ressurreição, as práticas dos sacramentos e da oração, tudo estava em debate. "Muitas figuras, como Maria Madalena, Tiago, Paulo, Pedro, eram apreciadas, reverenciadas e exaltadas por uns e desprezadas por outros", diz. Judas também. "Progressivamente, algumas dessas interpretações foram marginalizadas e desapareceram, enquanto outras se tornaram dominantes." Para o ex-padre e teólogo Fernando Altemeyer, professor da PUC de São Paulo, Judas desempenhou um papel fundamental na história cristã. "Todo o complô entre os sacerdotes judeus e os romanos, no qual Judas tem uma função importante como delator, faz de Jesus um justo perseguido", diz ele. "Mas a atitude do apóstolo traidor não foi muito pior que a de Pedro, que o negou por três vezes, ou que a dos demais apóstolos, que o abandonaram. Judas foi um mal necessário, um inocente útil."
Para a Igreja Católica, porém, os novos manuscritos não devem representar nenhuma mudança de posição teológica. "Essa nova interpretação não vai mudar a teologia. Judas será sempre aquele que traiu Jesus", afirma Luiz Felipe Pondé, professor de Ciências da Religião da PUC de São Paulo e de Comunicação da Faap. "A discussão interessa mais aos estudiosos. Trata-se de uma questão interessante e até mesmo lógica." É elementar, diz Pondé, que Deus usasse os elementos que criou para fazer a Paixão de Cristo acontecer. Na excitação gerada pela descoberta dos manuscritos, o monsenhor Walter Brandmuller, presidente do Comitê Pontifício para as Ciências Históricas, chegou a ser apontado pelo jornal The Times, de Londres, como líder de uma comissão formada pelo Vaticano para a reabilitação de Judas. "Fiquei sabendo que eu estava fazendo isso pelo Times", disse Brandmuller em tom de brincadeira. O jornal depois se retratou, e Brandmuller tenta acalmar um excesso de expectativas. "Trata-se sobretudo de uma contribuição que pode servir para reconstruir a época e o contexto em que se desenvolveu a primeira pregação do cristianismo", afirma ele sobre a publicação do manuscrito.
Prevista para abril na revista National Geographic, a publicação será o capítulo final de uma história que lembra um filme de mistério. Do século IV ou V, data em que supostamente foi produzido, até a década de 1950 ou 1960, quando foi recuperado, o documento ficou conservado dentro de um estojo de pedra. Seu primeiro dono foi um joalheiro egípcio chamado Hannah. Ele tentou vender três tratados, organizados em um livro de capa de couro e folhas gastas de 16 centímetros X 29 centímetros, a um negociador de arte grego chamado Nikolas Koutoulakis. ä Hannah pedia US$ 3 milhões pelo Evangelho de Judas, que ocupava cerca de metade das 62 páginas do calhamaço. A outra parte era composta de cópias do "Primeiro Apocalipse de Tiago" e "Cartas de Paulo para Felipe", dois textos encontrados perto da cidade egípcia de Nag Hammadi, em 1945.
Hannah e Koutoulakis não se entenderam. Em todas as negociações, realizadas em quartos de hotel de Genebra, como nas boas histórias de espionagem, Koutoulakis exigia a presença de Mia, sua jovem amante. Sem jogo de cintura, o grego confiou a ela a negociação. Mia tentou passar a perna em Koutoulakis e, no tumulto que se seguiu, o manuscrito foi rasgado. Uma parte ficou com Mia e desapareceu por longo tempo. Uma página foi destruída. O resto, Koutoulakis conseguiu preservar. Mais tarde, porém, sob ameaça de morte, o grego devolveu tudo a Hannah.
Hannah então tentou vender o que conseguiu recuperar a algumas universidades americanas, como Yale. Mas o preço que pedia era alto demais. A essa altura, a existência dos manuscritos se tornou assunto entre os acadêmicos. O professor James Robinson, da Universidade de Claremont, na Virgínia, foi procurado pelo egípcio em 1983. Nesse mesmo ano, o especialista americano em língua copta Stephen Emmel e o papirologista alemão Ludwig Koenen foram enviados pela Universidade Metodista de Dallas à Suíça com a missão de avaliar os manuscritos, oferecidos enrolados em jornais e guardados em três caixas de sapatos. "As condições em que trabalhei eram muito pouco satisfatórias", disse Emmel. "Tive só meia hora para olhar o manuscrito, não podia fazer imagens nem tomar notas."
Outro estudioso das escrituras bíblicas, Charles Hedrick, professor aposentado da Universidade do Estado do Missouri, afirmou ter visto fotografias de seis páginas danificadas do Evangelho. As negociações de fato só aconteceram em 1999, quando o advogado Mario Jean Roberty, presidente da recém-criada Fundação Maecenas, e sua cliente, a empresária Frieda Nussberger-Tchacos, dona da galeria de arte Nefer, compraram a parte de Mia. No ano seguinte, eles reunificaram o documento ao adquirir os pedaços em posse de Hannah, que estavam depositados no cofre de uma agência do Citibank de Nova York. O Evangelho foi oferecido então ao americano Bruce Ferrini, um negociante de arte de Ohio. O preço pedido já havia baixado bastante. Estava em torno de US$ 750 mil. Não se sabe por que, mas também dessa vez o negócio não deu certo.
O manuscrito saiu então de cena até que, em julho de 2004, durante o 8o Congresso Internacional de Estudos Coptas, em Paris, o professor Rudolph Kasser, da Universidade de Genebra, anunciou que estava traduzindo uma versão do Evangelho de Judas. Aparentemente, Roberty e Frieda desistiram da venda e concentram os esforços na publicação dos manuscritos. O mais recente evangelho apócrifo dificilmente terá força para reverter 2 mil anos de tradição, mas deverá ao menos lançar novas visões sobre os fatos relatados no Novo Testamento. De acordo com Mario Roberty, presidente da Fundação Maecenas, o conteúdo dos manuscritos é explosivo, pois retrata Judas como herói, não como um traidor. Para o especialista americano em copta Stephen Emmel, a descoberta do Evangelho de Judas é tão importante quanto foi a dos manuscritos encontrados em 1945 no deserto egípcio de Nag Hammadi. "Tudo aponta para o Evangelho a que se refere Santo Irineu no século II", diz Emmel. Que revelações terá ele sobre Judas? Se, de fato, o traidor cometeu o suicídio, pecado imperdoável tanto para judeus quanto para cristãos, o Judas instrumento de Deus ficou enterrado no deserto com os manuscritos heréticos. Tem pouca chance de ressuscitar
 O mundo é uma ilusão digital, Jesus conhece o software e Judas é seu ajudante
O mundo é uma prisão. Foi criado por uma entidade inferior má e mantém o homem aferrado a uma ilusão sem   perceber sua verdadeira natureza. O conhecimento permite acordar dessa espécie de pesadelo e viver a vida verdadeira. Essa é a linha mestra da doutrina dos gnósticos. É difícil identificar a origem dela. Junta elementos   judaicos, persas, egípcios. Tudo reinterpretado à luz de sua própria concepção. No século II, eles já eram um grupo forte e organizado e disputavam com outras comunidades cristãs a interpretação correta dos eventos ligados a Jesus. Na disputa pela hegemonia dentro da comunidade, os gnósticos produziram boa parte dos escritos apócrifos, livros falsamente atribuídos a vários personagens bíblicos.
O Evangelho de Judas é um desses escritos. Foi produzido por uma seita especialmente radical dos gnósticos, conhecida como cainita. A entidade criadora má era identificada, pelos gnósticos, como o Deus criador do Antigo Testamento. Como ele era o autor das leis morais que os cristãos herdaram dos judeus, ser contra essas leis era, para os cainitas, uma obrigação. Assim, Caim, o amaldiçoado por Deus por ter matado o próprio irmão, era visto como um libertador. Judas também. E Jesus, que para os gnósticos era um enviado do Deus verdadeiro e bom, superior ao Deus falso e mau do Antigo Testamento.
O gnosticismo foi logo posto à margem do cristianismo hegemônico como uma heresia, um desvio da doutrina aceita. Mas conheceu versões atualizadas ao longo do tempo. Reapareceu na Europa medieval, entre pensadores renascentistas e nas sociedades secretas do século XVIII. Em larga medida, esotéricos contemporâneos como Madame Blavatski e Rudolph Steiner, o idealizador da antroposofia, são tributários das doutrinas gnósticas.
Mas nem todos os apócrifos conhecidos são obras de hereges. Muitas das tradições cristãs mais conhecidas popularmente estão em textos que ficaram de fora dos escritos aceitos na Bíblia, os chamados livros canônicos. A conhecidíssima imagem do presépio, por exemplo, só fica completa com a contribuição dos apócrifos. A presença da vaca e do burro que, com sua respiração, aquecem o Menino Jesus não consta de nenhum Evangelho canônico. Nem a história de Verônica, a mulher que enxugou o rosto de Jesus enquanto ele carregava a cruz e fica com a imagem dele impressa no pano. Os reis magos são três por causa dos apócrifos, também as únicas fontes para seus nomes: Baltazar, Gaspar e Melchior. Os nomes dos pais de Maria, Joaquim e Anan, santos festejados oficialmente pela Igreja Católica, também só constam de escritos que acabaram ficando fora da Bíblia.
As páginas de papiro foram encontradas em um vilarejo no Egito, protegidas por uma caixa de pedra. Sobreviveram 1.600 anos graças ao clima seco da região. Foram vendidas 62 páginas, embrulhadas em uma capa de couro
2 - Rasgados Depois de ter sido reencontrado, há cerca de 50 anos, o documento foi rasgado no sentido vertical numa disputa entre negociantes ocorrida na Suíça. Algumas páginas se perderam durante a confusão

3 - Próprio punho O documento foi citado por Santo Irineu de Lyon, no ano 180. O original diz que o texto teria sido escrito de próprio punho por Judas, no retiro no deserto
4 - Palavras-chave Na última página do manuscrito, que circula na internet, há duas palavras-chave que identificam o documento. São Euangelion (Evangelho, em grego) e Judas
Judas Iscariotes Superstar
 Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavalleri



JUDAS ISCARIOTES SUPERSTAR
               Em A Paixão de Cristo (acima), de Gibson, Judas é perseguido por demônios. Em Jesus Cristo Superstar, é representado por um negro. Em O Evangelho segundo São Mateus, de Pasolini, ele se arrepende
O que dizem os Evangelhos canônicos
 Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavalleri

As narrativas dos apóstolos que compõem o Novo Testamento apresentam contradições quando falam de Judas
 Segundo Mateus
 Judas desempenha um papel importante neste Evangelho
Segundo Mateus, Jesus conversa freqüentemente com Judas Iscariotes. Há uma forte representação moralizante dos acontecimentos narrados pelo apóstolo. No capítulo 10, Judas é apresentado como o 12o apóstolo que trairá o Salvador. Mateus conta como Judas se informa sobre qual quantia ganharia e combina o sinal do beijo. Na última ceia, Jesus avisa que algum apóstolo o entregará. Judas pergunta: "Serei eu, porventura?". Depois da traição, Judas se enforca de tanto remorso. Mas, antes, ele ainda quer devolver o dinheiro. "Pequei, pois traí sangue inocente", diz.
Segundo Marcos
 É considerado o texto bíblico mais antigo a mencionar Judas
O texto de Marcos é o mais curto dos Evangelhos. Logo no início, cita uma lista dos apóstolos. Jesus escolhe Judas para integrar-se ao grupo. Como nos demais Evangelhos, Judas é sempre o último a ser citado. Ao mesmo tempo, a futura traição já é repreendida. Judas, no entanto, não está no centro das atenções. Seu nome é citado apenas três vezes em todo o texto. Na Santa Ceia, quando Jesus fala aos apóstolos da delação, Judas não pergunta nada. Ao contrário do texto de Mateus, Marcos não conta nada sobre o suicídio de Judas.
Segundo Lucas
 Aumenta o papel de Satanás na história de Judas
Relata como os príncipes dos sacerdotes e os escribas buscavam alguma maneira de liquidar Jesus. Escreve que Satanás entrou em Judas e o levou a fazer o acordo para entregar Jesus. Lucas fala de Judas quase como uma ferramenta involuntária do demônio em sua luta contra o poder divino. Em comparação ao que escrevem Mateus e Marcos, na versão de Lucas, Judas não seria     efetivamente responsável por seu papel trágico. Apesar disso, Jesus alerta na Santa Ceia: "Ai daquele homem por quem Ele (o Filho do Homem) há de ser entregue".
Segundo João
 É o texto que mais se diferencia dos outros três canônicos
João não menciona a lista dos 12 apóstolos, na qual Judas apareceria em último lugar. Na Santa Ceia, Jesus diz aos apóstolos quem vai traí-lo: "É aquele a quem eu der um pão molhado". Dito isso, Jesus molha o pão e o dá a Judas, que come. Atrás do bocado, entra Satanás em Judas. E Jesus diz: "O que tens a fazer, faze-o depressa". Mas nenhum dos outros apóstolos à mesa percebeu a propósito de que Jesus proferiu aquelas palavras. No dia da traição, Judas acompanha os soldados que vão prender Jesus, com lanternas e armas.
Lábios da traição
Ivan Padilla e Marcelo Musa Cavalleri

LÁBIOS DA TRAIÇÃO
O osculum, ou beijo na face, era um cumprimento comum entre os cristãos
De acordo com as escrituras, o beijo era uma forma corriqueira de cumprimento entre pais, mães, filhos e irmãos. Amigos e camaradas também beijavam-se em diversas ocasiões, como à entrada da casa para um banquete, na época de Cristo. Era um símbolo da fraternidade entre os seguidores de Jesus, além de um sinal de respeito e honra. A simbologia do beijo traidor de Judas Iscariotes foi retratada por vários artistas ao longo dos séculos.
 Mestre da Vida de Maria, 1460-1480      Dierick Bouts, 1410-1475
 Escola de Aragão            Mestre da Captura, 1290-1295
 Mestre de Groágmain, 1900       Hans Holbein, 1498



MARIA OU MYRIAN DE MAGDALA

No início do cristianismo havia uma certa confusão com Três Marias:

     A igreja Latina costumava  celebrar juntas na sua liturgia as três mulheres de que fala o Evangelho, e a liturgia grega comemora separadamente; Maria de Betânia, irmã de Lázaro e de Marta; Maria denominada pecadora "a quem muito foi perdoada porque muito amou"; e Maria Madalena ou Maria de Magdala, a possessa curada por Jesus, que o seguiu e o assistiu com as outras mulheres até a sua crucificação. Ela também teve o privilégio de vê-lo ressuscitado. A identificação das três mulheres foi facilitada pelo nome comum ao menos a duas delas e pela opinião de São Gregório Magno que viu indicada em todas as passagens do Evangelho uma única e mesma pessoa.
  
Os relatores do novo calendário, reconfirmando a memória de uma só Maria Madalena sem outra indicação, sendo ela a mesma que Jesus apareceu após a ressurreição.

No capítulo VII de São Lucas, após haver descrito a unção da pecadora que apareceu de repente na sala do banquete e derrama nos pés de Jesus,  perfumados ungüentos que depois enxuga com os próprios cabelos, prossegue assim o Evangelho: " Depois disso Ele andava por cidade e aldeias,...Os doze o acompanhava, assim como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças, Maria, chamada  Madalena da qual haviam saído sete demônios, Joana.. e várias outras, que os serviam com seus bens."


Vitral Madalena vê Jesus
 
A desconhecida pecadora, que pela contrição perfeita mereceu o perdão dos pecados , não é a Madalena. Maria Madalena era  bem conhecida, seguia constantemente o Mestre da Galiléia, Judéia, até aos pés da cruz, cujo ardente amor Jesus recompensa no dia da Ressurreição. Ela está inconfundivelmente "junto à cruz de Jesus", depois da vigília amorosa "sentada em frente do sepulcro", em fim, na madrugada do novo dia é a primeira a ir de novo ao sepulcro, onde vê e reconhece o Cristo ressuscitado.`

Á Madalena, em lágrimas por ter encontrado a pesada perda do sepulcro retirada e lá dentro vazio, Jesus se dirige chamando-a simplesmente por "Maria!" e a ela confia a notícia do grande mistério; "Vai dizer aos meus irmão; Eu subo a meu pai e vosso Pai, a meu Deus e vosso Deus." É esta a Madalena que a igreja hoje comemora e que; segundo uma antiga tradição grega, teria ido viver em Éfeso, onde teria morrido. Nesta cidade morava também João o apóstolo predileto , e Maria  mãe de Jesus.

A igreja católica não faz festa para Maria Madalena,no entanto no dia 22 de julho se comemora a o dia em memória de Santa Maria Madalena Madalena. As festas ficam restrita as comunidades paroquiais na qual tem como a Santa Maria Madalena como Padroeira.

 Durante um banquete na casa de Simão, Maria Madalena, uma pecadora arrependida, lavou os pés de Cristo e ungiu-os com perfume.  Observando a murmuração de Simão, Jesus disse-lhe que o amor de Maria Madalena para com Deus tinha merecido a misericórdia divina.

(Lucas 7; 74)



  Pensando que o corpo do Mestre tinha sido roubado,Maria Madalena foi correndo do sepulcro até os discípulos e disse-lhes;
" Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram."

Quando voltou ao sepulcro, Jesus apareceu-lhe.
Ela julgava que era um jardineiro até que Jesus lhe chamou por seu nome;
"Maria",
E ela por sua vez cheia de alegria,
chamou-lhe Robboni. que quer dizer Mestre.
(João 20;16)



10 de outubro de 2011

EVANGELHO GNÓSTICO DE JOÃO


EVANGELHO GNÓSTICO DE JOÃO
TAMBÉM CHAMADO  ATOS DE JOÃO



ATOS DE JOÃO
Antes que fosse preso pelo julgamento dos Judeus, O Mestre nos reuniu a todos e disse:
"Antes que eu seja entregues a eles, cantaremos um hino ao Pai e, em seguida, iremos ao encontro daquilo que nos espera."
Ele pediu que nos déssemos as mãos em roda e colocando-se no meio, disse:"Respondei-me Amém."
Começou , então a cantar um hino que dizia: "Gloria ao Pai". E nós ao redor lhe respondíamos:"Amém".
"Glória á Graça; glória ao Espírito; glória ao Santo; glória a sua glória." - Amém.
"Nós o louvamos, ó Pai; nós lhe damos graças, ó Luz em que não habita as trevas." - Amém.
"Agora direi porque damos graças:"
"Devo ser salvo e salvarei." - Amém.
"Devo ser liberto e libertarei."-Amém.
"Devo ser gerado e gerarei."-Amém.
"Devo ouvir e serei ouvido."-Amém.
"Devo ser lembrado e sempre lembrarei."-Amém.
"Devo ser lavado e lavarei."-Amém.
"A Graça dança em conjunto, eu devo tocar a flauta, dançai todos."-Amém.
"O reino dos anjos cantam louvores conosco."-Amém
"Ao universo pertence àquele que participa da dança."-Amém.
"Quem participa da dança, não sabe o que vai acontecer."-Amém.
"Devo ir mas vou ficar."-Amém.
"Devo honrar e devo ser honrado."-Amém.
"Não tenho morada mas estou em todas os lugares."-Amém.
"Não tenho templo mas estou em todos os templos."-Amém.
"Sou um espelho para aquele que me contempla."-Amém.
"Sou uma porta para aquele que bate."Amém.
"Sou um caminho para ti que passa."Amém.
"Se seguires minha dança, compreendes o que falo, guarda silêncio sobre meus mistérios."
"Tu, que participa da dança, compreende o que faço, pois a ti pertence esse sofrimento.!
"Tu não poderia de maneira alguma compreender o que sofre, se Eu não tivesse sido enviado como Logos do Pai."
"Viste o que sofro, me viste sofrendo, e não ficaste incessível, mas sim profundamente perturbado."
"Tu, que pela perturbação alcançaste a sabedoria, tens em mim um leito: repousa em mim."
"Saberás quem sou quando Eu tiver partido. O que pareço ser agora, não sou. Tu verás quando vieres."
"Se soubesse como sofrer, seria capaz de não sofrer mais. Aprende a sofrer e tornar-te-ás capaz de não mais sofrer."
"O que não sabes, eu mesmo vou ensinar. Sou teu Deus. Quero andar no mesmo ritmo das almas santas. Aprende comigo a palavra da sabedoria."
"Dize-me de novo: Glória ao Pai; glória ao Logo; glória ao Espírito Santo.
"Tu queres saber o que sou? Com a palavra revelei tudo, e não fui de modo algum revelado."
"Compreende bem: Eu estarei aqui. Quando tiveres compreendido, diz: Glória ao Pai !"-Amém.
Depois do Canto dos Salmos, saíram para o monte as Oliveiras.

A revelação do mistério da cruz dos Atos de João

Depois que o Senhor dançou conosco, meu amado, ele foi embora.
E nós ficamos como homens surpresos e entorpecidos, e partimos para aqui e acolá.
E assim eu o vi sofrer, e não esperei por seu sofrimento, mas parti para o Monte das Oliveiras e chorei sobre o que veio a se passar. E quando ele estava pendurado sobre a cruz na Sexta-feira, na sexta hora do dia, veio uma escuridão sobre toda a terra.
E meu Senhor ficou no meio da caverna, iluminando-a disse:
"João, para o povo lá em baixo em Jerusalém,
Eu estou sendo crucificado e perspassado com lanças e espinhos,
e estão me dando vinagre e bílis para beber.
Mas para você Eu estou falando, escutai o que eu digo.
Eu coloquei em tua mente para vires a esta montanha
para que possais ouvir o que um discípulo
deve aprender de seu mestre e homem de Deus."
E quando ele disse isto, mostrou-me uma cruz de Luz firmemente fixa,
e em volta da cruz uma grande multidão, que não tinha nenhuma forma definida,
e na cruz estava uma outra forma, com a mesma aparência.
E eu vi o Senhor, ele mesmo, sobre a cruz, sem nenhuma forma,
mas apenas um tipo de voz; não aquela voz que conhecíamos,
mas uma que era doce e gentil e verdadeiramente a voz de Deus, que me disse:
"João, deve haver um homem para ouvir estas coisas de mim:
pois eu preciso de um que esteja pronto para ouvir.
Esta cruz de Luz é algumas vezes chamada de Logos por mim,
para vossos propósitos, algumas vezes Mente, algumas vezes Jesus.
Algumas vezes Cristo, algumas vezes uma porta, algumas vezes um caminho,
algumas vezes pão, algumas vezes semente, algumas vezes ressurreição,
algumas vezes Filho, algumas vezes Pai, algumas vezes Espírito, algumas vezes Vida,
algumas vezes Pistis (Fé), algumas vezes Charis (graça);
e assim é chamada para propósitos do homem."
"Mas o que é verdadeiramente,
como conhecida em sí mesma e dito por nós, é que:
É a distinção de todas as coisas;
e a forte elevação do que está firmemente fixo, fora do que é instável,
e a harmonia da Sabedoria, sendo Sabedoria em harmonia.
Mas há lugares à direita e à esquerda,
Poderes, Autoridades, Principalidades e demônios,
ameaças, paixões, diabos, Satan, e a raiz inferior
de onde a natureza das coisas transientes provém."
"Esta cruz então é aquela que unificou todas as coisas pela palavra e
que as separou do que é transitório e inferior,
e que também compactou coisas dentro de mim.
Mas esta não é aquela cruz de madeira que você deverá ver quando descer daqui;
nem eu sou o homem que está sobre aquela cruz.
Eu, quem agora você não vê, mas apenas ouve a minha voz.
Eu fui tomado para ser aquilo o que eu não sou,
Eu, que não sou o que para muitos eu fui;
mas o que eles irão dizer de mim é penoso e indigno de mim.
Desde então o lugar de meu repouso não deve ser nem visto nem revelado.
Muito mais deverei eu, o Senhor deste lugar, ser nem visto nem revelado."
"A multidão ao redor da cruz, que não é de uma forma, é a natureza inferior.
E aqueles que você viu na cruz, mesmo que eles ainda não tenham uma forma -
nem todos os membros daquele que desceu foram ainda reunidos.
Mas quando a natureza humana é tomada,
e a raça que vem a mim e obedece minha voz,
então aquele que agora me ouve,
deverá unir-se a esta raça e não será mais o que ele é agora,
mas estará acima deles, como eu estou agora.
Por tanto tempo enquanto não te chamastes meu,
eu não sou o que sou, mas se me ouvis,
tu também como um ouvinte deverás ser o que eu era,
quando fores como eu sou comigo mesmo,
pois de mim tu és o que eu sou.
Portanto ignore os muitos e despreze aqueles que estão fora do mistério;
pois deves saber que eu sou totalmente com meu Pai, e o Pai comigo."
"Assim eu não sofri nada daquelas coisas das quais irão dizer de mim;
mesmo o sofrimento que eu mostrei a você e ao resto em minha dança,
eu desejo que isto seja chamado de mistério.
Pois o que você é, que eu mostrei a você, como você vê;
mas o que eu sou, é apenas conhecido por mim mesmo, e ninguém mais.
Deixa me ter o que é meu;
o que é teu deves ver através de mim;
mas a mim deves ver não verdadeiramente o que eu sou, como eu disse,
mas aquilo que você, meu parente, é capaz de saber.
Tú ouvistes que eu sofri, e eu não sofri,
e aquilo que eu não sofri, ainda assim eu sofri,
e que eu fui transpassado, ainda assim eu não fui ferido,
que eu fui pendurado, ainda assim eu não fui pendurado,
que o sangue fluiu de mim, ainda assim ele não fluiu,
e, numa palavra,
aquilo que eles dizem de mim, eu não confirmo,
mas aquilo que eles não dizem,
estas coisas, eu sofri.
Agora, que coisas são estas, que eu secretamente mostro a você;
pois eu sei que tu irás entender.
Tú deves conhecer a mim, então, como um tormento do logos,
o sangue do logos, as feridas do logos, o jejum do logos, a morte do logos.
E assim eu digo, descartando minha humanidade.
O primeiro então que deves conhecer é o Logos, depois deves
conhecer o Senhor, e em terceiro lugar o homem, e o que ele sofreu."
Quando ele disse estas coisas para mim, e outros a quem eu não sei como dizer, como ele desejava, ele foi tomado, sem que ninguém da multidão o visse. E descendo, eu ri deles todos, pois ele havia me dito o que eles diziam dele; e eu guardei esta única coisa em minha mente, que o Senhor realizou tudo como um símbolo (sinal)
e uma liberação para a conversão e salvação do homem.

Apocalipse de Pedro ( Frei Jacir)


O Apocalipse de Pedro
 Frei Jacir de Freitas Faria




O Apocalipse de Pedro é também um dos apócrifos encontrados em Nag Hammadi. Existe um outro livro com o mesmo nome, conservado em etíope. O primeiro está em grego.

Apocalipse de Pedro conta três visões que Pedro teve sobre a crucifixão e ressurreição de Jesus. Além de travar uma polêmica com os opositores do pensamento gnóstico, Apocalipse de Pedro tem a intenção de oferecer uma reta interpretação da paixão de Jesus, bem como a de animar o seleto grupo de cristãos gnósticos, que tinha Pedro como o fundamento de fé. Pedro no Apocalipse Pedro é o verdadeiro gnóstico, que sabe distinguir entre o falso e o verdadeiro. Ele é diferente do Pedro dos “eclesiásticos”, os quais recebem duras críticas dos gnósticos.

O texto que segue é a tradução do Apocalipse de Pedro encontrado em Nag Hammadi, publicado em: PIÑERO, Antonio; TORRENTES, José Montserrat; BAZÁN, Francisco Garcia. Textos gnósticos:Apocalipsis y otros escritos. Biblioteca de Nag Hammadi, III. Madrid: Trotta, 2000, p. 59-69. O que está entre parêntesis não faz parte do original. São interpretações que ajudam compreensão, às vezes, confusa do texto. Este texto está também publicado e comentado em parte no nosso livro: O outro Pedro e a outra Madalena segundo os apócrifos. Petrópolis: Vozes, 2004.

Introdução


Quando o Salvador estava sentado no Templo, no tricentésimo ano da edificação e no mês construção da décima coluna, satisfeito com a grandeza da Majestade vivente e incorruptível, ele me disse:


PRIMEIRA VISÃO


- Pedro, bem-aventurados os de cima que pertencem ao Pai, que através de mim há revelado a vida para aqueles que são da vida, pois eu os recordei, aqueles que estão edificados sobre a sólida base, que ouçam minhas palavras e que distingam as palavras da injustiça e a transgressão da Lei das palavras da justiça. Com efeito, eles procedem do alto, de cada palavra da Plenitude da verdade e tem sido iluminados com benevolência por Aquele, a quem as potestades buscaram, mas não encontraram. Aquele que nem foi mencionado pelas em nenhuma geração dos profetas.

Este apareceu agora entre aqueles, naquele no qual se é aparecido, no Filho do Homem, exaltado no alto dos céus, revelado com temor dos homens de essência semelhante. Mas tu, Pedro, sê perfeito segundo o nome que eu te coloquei (Pedra), pois eu ti escolhi, e fiz de ti um princípio para o resto, a quem eu chamei para o conhecimento. Sê forte até que venha o imitador da justiça, o imitador daquele que foi o primeiro a chamar-te.

De fato, ele te chamou para que o conheça de um modo digno, por causa da rejeição de que foi alvo. Você pode reconhecê-lo nos tendões de suas mãos e de seus pés, no coroamento realizado por aqueles que vivem na região do meio, no corpo luminoso que eles (os Arcontes, aqueles que pregam os falsos ensinamentos sobre Jesus) apresentaram na esperança de estarem cumprindo um serviço de honrosa recompensa, quando ele ia recriminar-te três vezes naquela noite”.

O Salvador disse estas coisas, enquanto eu estava vendo um dos sacerdotes e o povo que corriam até nós com pedras para nos matar. Apavorei-me, pensando que íamos morrer. E Ele me disse:

– Pedro, eu te disse diversas vezes que estes são cegos sem guias. Se queres conhecer sua cegueira, coloca as tuas mãos sobre os olhos de seu corpo, e diga o que vês. Quando eu lhe disse que não via nada, Ele me disse:
- Não és possível que não veja nada!

Ele me disse novamente:
- Faça o mesmo outra vez.

E em mim se produziu medo e alegria ao mesmo tempo, pois vi uma luz nova, maior que a luz do dia. Logo, a luz desceu sobre o Salvador, e eu lhe contei o que havia visto. E ele me disse de novo:

- Levanta tuas mãos e escuta o que dizem os sacerdotes e o povo.

Eu ouvi os sacerdotes, enquanto estavam sentados com os escribas. As multidões gritavam aos brados. Quando o Salvador escutou essas coisas de mim, ele me disse:

- Apura os teus ouvido e ouça o que estão dizendo.

E escutei de novo. Enquanto estava sentado, te louvam. Quando eu disse estas coisas, o Salvador disse:
- “Te disse que estes são cegos e surdos. Escuta, pois, agora as que estão dizendo de forma misteriosa e conservá-as. Não as diga aos filhos deste mundo, pois eles blasfemariam contra ti neste mundo, já que eles não te conhecem, mas louvar-te-ão assim que te conhecerem”.

Heresias em torno ao grupo. Primeiro conjunto de adversários: gnósticos desviados da verdade originária

Na verdade, muitos, no início, acolherão as nossas palavras, mas logo se distanciarão delas, por vontade do pai de seu erro, porque terão feito o que ele quis. Mas Deus lhes revelará em juízo, quer dizer, aos servidores da Palavra. No entanto, os que se ajuntarem a eles serão seus prisioneiros, porque estão privados de conhecimento.

Aquele que é inocente, bom e puro, é por eles entregue ao carrasco e ao reino daqueles que louvam o Cristo restaurado. Eles louvam os homens que propagam a mentira, aqueles que virão depois de ti. Eles se aderirão ao nome de um morto, pensando que serão purificados por esse nome. Ao contrário, ficarão impuros e cairão em nome do erro em mãos de um homem malvado e astuto, em dogmas multiformes, e serão governados na heresia.


Outro grupo gnóstico


Acontecerá que alguns deles blasfemarão da verdade e proclamarão uma doutrina falsa. E dirão coisas más uns contra os outros. Alguns desses serão chamados de “aqueles que estão sob o poder dos arcontes”, os que procedem de um homem e uma mulher nua, de uma multidão de formas e grande variedade de sofrimento.

E acontecerá que os que dizem estas coisas explorarão os sonhos. E se afirmam que um sonho tem sua procedência de um demônio, digno de seu erro, então receberão a perdição em vez da incorrupção.Com efeito, o mal não pode produzir um fruto bom. Uma vez que do lugar de onde vem, cada um atrai o que a si se assemelha, pois nem toda alma é da verdade ou da imortalidade. Cada alma deste mundo tem como destino a morte, segundo a nossa opinião, porque é sempre uma escrava, visto que foi criada para servir a seus desejos, e o seu papel é a destruição eterna: nela se encontra e dela deriva. As almas amam as criaturas da matéria, vindas à existência com elas.

Mas as almas imortais não se assemelham a estas, ó Pedro. E quando ainda não é chegada a hora da morte, acontecerá que a alma imortal se parecerá com uma mortal. Mas ela não revelará a sua natureza, que é somente imortal, mas pensa na imortalidade. Tenha fé e deseja abandonara estas coisas.

Em verdade, quem é inteligente não colhe figos de cardos ou espinhos, nem uvas de plantas espinhosas. Certamente, o que se produz sempre está dentro daquilo que produz. O que procede do que não é bom, resulta ser para a alma destruição e morte. Mas esta, a alma imortal, que chega a ser no Eterno, se encontra na Vida, e na imortalidade da vida, a qual se assemelha. Portanto, tudo o que existe não se dissolverá no que não existe. A surdez e cegueira se unem somente com os seus semelhantes.

Também outro grupo gnóstico

Outros, no entanto, converter-se-ão das palavras más e dos mistérios que extraviam.

Alguns que não entendem os mistérios, falam de coisas que não entendem. Gabam-se de ser os únicos que conhecem o mistério da Verdade, e, cheios de orgulhos, agarram-se à insolência, invejando a alma imortal, que se tornou entretanto uma garantia. Já que toda potestade, dominação e poder dos eons desejam estar eles (as almas imortais dos gnósticos) na criação do mundo, de modo que aqueles (as potestades/forças) que não são, esquecidas pelas que são (as almas imortais), os louvem, embora não tenham sido salvas pelas potestades, nem levadas ao caminho (saída do mundo), desejando sempre chegar a ser imortais. Porque quando a alma imortal se fortalece com o poder de um espírito intelectual (um gnóstico), eles (as potestades/forças), imediatamente, fazem com que a alma imortal torne-se semelhante a um dos extraviados (da doutrina gnóstica).

Outro grupo gnóstico

Pois muitos, que se opõem à verdade e são os mensageiros do erro, conspiram com seu erro e sua lei contra estes pensamentos puros que provêm de mim, partindo do ponto de vista, a saber, que o bem e o mal procedem da mesma raiz. Eles fazem negócio com a minha palavra, e anunciam um duro Destino: a raça das almas imortais caminhão em vão, até a minha parusia. Por conseguinte, do meio deles sairão (pessoas que não seguem a minha palavra).

E o perdão de seus pecados, nos quais caíram por culpa de seus adversários, os quais eu resgatei da escravidão a que se encontravam, dando-lhes a liberdade. E eles agem de modo a criar uma imitação do verdadeiro perdão, em nome de um defunto, Hermas1, dos primogênitos injustiça (Satanás), para que a luz existente não seja vista pelos pequenos (os verdadeiros gnósticos). No entanto, os que pertencem a esse gênero de pessoas serão lançados nas trevas exteriores, longe dos filhos da luz. Por conseguinte, nem eles entrarão, nem tampouco permitem aos que querem receber a sua libertação.

Outro grupo. Também gnósticos, também errados

E ainda outros deles, que sofrem, pensam que conseguirão a perfeição da vivência comunitária (ser Igreja) que realmente existe, a saber, a união espiritual com os que estão em comunhão, através da qual se revelará o matrimônio da imortalidade (igualdade da essência com o Salvador). Mas, em vez disso, se manifestará uma fraternidade feminina (falsa e imperfeita) como imitação. Estes são os que oprimem os seus irmãos, dizendo-lhes: “Por meio disso (sua doutrina), nosso Deus tenha piedade, pois a salvação chega a nós somente por isso”. E eles não conhecem o castigo daqueles que se alegram por aqueles que fizeram isto aos pequenos (gnósticos verdadeiros), que vieram (outros que também agem em nome de Cristo) e fizeram prisioneiros (os gnósticos).

Outro grupo de adversários: os eclesiásticos

E existem também outros, que não dos nossos, que se chamam a si mesmos de bispos e também diáconos, como se tivessem recebido essa autoridade de Deus. Eles são julgados por ocuparem os primeiros lugares na assembléia. Essa gente, eles são canais vazios.

Mas eu disse:

- “Diante do que me disseste, eu tenho medo, a saber, que são poucos, como veremos, os que estão fora do erro, enquanto muitos viventes serão induzidos ao erro e ficarão divididos. E quando pronunciarem o seu nome, serão considerados dignos de fé”.

E o Salvador disse:

- “Governarão sobre os pequenos (gnósticos) por um tempo para eles determinado, em proporção ao erro deles. E depois que se complete o tempo de seu erro, o tempo que nunca envelhece renovará o pensamento imortal; E os pequenos governarão sobre os que agora governam sobre eles. E o tempo que não envelhece extirpará o erro deles pela raiz e expô-lo-á à vergonha. E se revelará a desvergonha que ela (a classe dos eclesiásticos) teve sobre si.

E acontecerá que os pequenos serão imutáveis, ò Pedro. Eia, vamos! Cumpramos a vontade do Pai incorruptível. Com efeito, eles verão a sentença contra eles (os eclesiásticos), os quais ficaram cairão em desgraça. Mas, quanto a mim, eles não poderão tocar-me. Mas tu, ò Pedro, estarás no meio deles. Não temas por causa da covardia deles. A inteligência deles será limitada, pois o Invisível lhes fará oposição.”

SEGUNDA VISÃO: CRUCIFICAÇÃO

Enquanto me dizia estas coisas, vi o modo como eles o agarravam (o crucificavam). E eu disse:
- Que vejo, ò Senhor? É a ti que eles aprisionam, enquanto estás entretendo comigo? Quem é esse que sorri alegre sobre a árvore? Tem outro a quem eles golpeiam nos pés e nas mãos?

E o Senhor me disse:
- Aquele que viste sobre a árvore alegre e sorridente, este é Jesus, o vivente. Mas este, em cujas mãos e pés introduzem os cravos, é o carnal, o substituto, exposto à vergonha, o que existiu segundo a semelhança. Olha para ele e para mim!

Mas eu, depois de ter visto, disse:
- Senhor, ninguém olha para você. Fujamos deste lugar.

Mas ele me disse:
- Eu ti disse, deixa os cegos sozinhos. E quanto a mim, veja quão pouco entendem o que dizem. Eles expuseram à vergonha o filho de sua glória em vez do servo.

TERCEIRA VISÃO: A RESSURREIÇÃO

E eu vi, aproximando-se de nós, um que parecia com Ele, exatamente com Aquele que estava sorridente sobre a árvore. Estava vestido do Espírito Santo. Ele é o Salvador. E houve uma grande luz, inefável, que o envolveu, e uma multidão de anjos inefáveis e invisíveis que o louvavam. Quando eu olhei para ele, ele se manifestou glorificado. E me disse:

- Coragem! Na verdade, tu és aquele a quem foi dado conhecer estes mistérios, a saber, que aquele a quem crucificaram é o primogênito, e a casa dos demônios e o recipiente de pedra, onde habitam os demônios, o homem de Elohim, o homem da cruz, aquele que está sob a Lei. Ao contrário, Aquele que está junto dele é o Salvador vivente, ele, que primeiro que estava com ele, que prenderam e soltaram, Aquele que, alegre, olha para os que o trataram com violência, enquanto eles estavam divididos.

Por este motivo, ele ri de sua falta de visão, sabendo que são cegos de nascença. Existe, certamente, aquele que toma sobre si o sofrimento, pois o corpo é o substituto. No entanto, o corpo que eles libertaram é o meu corpo incorpóreo. Enquanto, eu sou o Espírito intelectual pleno de luz radiante. Aquele que viste vindo sobre mim é nosso Pleroma intelectual, aquele que une a luz perfeita ao meu Espírito Santo.

Estas coisas, pois, que tu viste, tu deves transmiti-las à outra estirpe, àqueles que não provêm deste mundo. Porque um dom deste gênero não é dado a homens que não sejam imortais; mas tão somente naqueles que foram escolhidos em virtude de sua natureza imortal, naqueles que demonstraram ser capazes de acolhê-lo: este espírito dar-lhes-á a própria plenitude.

Por isso, eu digo que “A todo aquele que tem será dado e terá em abundância”. Mas a quem não tem – ao homem deste lugar, aquele que está completamente morto, que está longe dos seres da criação, que foram gerados, a esse que, quando aparece alguém cuja natureza é imortal, pensa que a possui -, a ele será tirado o que te e será dado àquele que tem. Tu, pois, sejas corajoso e não tenhas medo de nada. Porque eu estarei contigo para que nenhum de teus inimigos tenha poder sobre ti. A paz esteja contigo. Seja forte!”

Quando Jesus disse estas coisas, Pedro voltou a si.

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1 Alusão à uma compreensão errônea do perdão dos pecados, contida na obra O Pastor, de Hermas.